quarta-feira, dezembro 27, 2006

Promoção do POETA


Sabia que você pode ter essa foto do post de hoje na sua casa? Envie seu endereço para correspondencia completo para fabio_inrik@hotmail.com e, assim que puder, eu mandarei pra sua casa junto com essa mensagem, de graça. Só pra vcs não se esquecerem de mim. :S Vergonha pra que? Manda aê. To esperando!


DA FOTO*******


Bom dia! Escrevi esse texto especialmente pro meu pai, minha mãe e minha irmã. Só faltou pra Xuxa e pra Sasha, né?! rsrsrs. Se eu não fosse judeu, isso seria um Feliz Ano Novo, mas dá muito bem pra entender que fiko longe dessa linha.


Feliz Dia NOVO


Sou 'teimoso com a tristeza'; quando ela aparece, substituo-a por um sentimento que no grego antigo podemos chamar de "el·pís".

Elpís significa basicamente 'esperança'. Porém, de certo modo, esse sentimento vai mais além do que 'esperar'. Se em Português temos 'esperança' até para coisas ruins ou neutras; em grego, 'elpís' é sempre relacionado com boas expectativas; está sempre ligado à esperas que se concluirão num resultado bom, em geral, gratificante; invariavelmente, um final favorável ao esperançoso.
Elpís. É tão clichê desejar um Feliz Ano Novo. É tão funesto restringir a grandeza da palavra 'feliz' à somente um ano.

Já que a vida se renova a cada pôr-do-sol e a cada despontar das estrelas na cortina da noite, desejo a você muita elpís para os felizes anos novos que ainda tiveres para gastar, para as felizes novas semanas que ainda sobrar pique para usufruir e para as novas horas usufruídas com velhas amizades, novos motivos para velhas gargalhadas, novas razões para velhos sentimentos.

Não a partir do dia primeiro, não a partir do mês ou do ano que vêm. A partir do momento que abaixares este cartão. Na hora que retirar os olhos destas letras e depositá-los no horizonte... a partir deste momento, cuide de alimentar sua elpís, sua capacidade de acreditar que vai dar pé, que vai dar certo, que irás conseguir e/ou que irás conquistar.
Se, apesar de toda a elpís ainda restar um problema, permita-me ser seu matemático. Se ainda restar uma dorzinha no coração, quero ser seu cardiologista. Se ainda sobrar um cantinho de tristeza, quero ser seu palhaço. Por outro lado, se sobrar retalhos de infantilidade na sua alma, quero ser seu brinquedo. Se encontrar no fundo daquele baú, uma máquina de parar o tempo, quero ser sua cobaia. Se houver vestígios de um artista dentro de si, permita-me ser sua platéia... seu fã.

Problemáticos, doentes, tristes, crianças, inventores, famosos, anônimos...

Sendo o que for...
Estando onde estiver...
Passando o tempo que passar...
Estarei sempre aqui: com a proximidade de um telefone, com a rapidez de um e-mail, com a vivacidade de uma saudade, com a jovialidade de um sonho e com força inabalável do amor que tenho por você e nossa família.

São meus mais sinceros votos,

Fábio Henrique

terça-feira, dezembro 26, 2006

Carpinejar


Boa semana pra vcs.

Nunca temos tempo. Para trabalhar ou rever amigos ou descansar e desfrutar as distrações. O tempo de férias não conta, é um templo planejado, que mais se assemelha a um trabalho free lancer do que a uma espontânea inquietação. Passagens, hotel ou casa alugada, pagar as contas com antecedência, procurar alguém para controlar a casa, manter a água das plantas, isso que não possuo cachorro... Não temos tempo a perder, muito menos a ganhar. Tempo é espaço, estar perto para conseguir voltar. Não tenho tempo para responder mensagens, não tenho tempo para ir à praça. Diversão termina rápido. Minha boca é um relógio de corda.

Meu tempo transformou-se curiosamente na minha falta de tempo. Sempre me desculpando, sempre alegando algum outro compromisso. Ainda mais para quem não aprendeu a dizer não. Eu desmarco, não nego nada. O constrangimento de cancelar algo me transtorna. Fico dias sem dormir inventando perdões absurdos. Qualquer contemporâneo tem vidas paralelas. E mortes paralelas também.

Existe um único antídoto para a falta de tempo. Um único. Estar apaixonado. Esquecer de si para inventar o desejo. O desejo transforma-se no próprio tempo. Tudo é adiado. A dispersão nos leva a reparar nas janelas, nos interruptores, nos sapatos dos colegas. As córneas se abaixam. Nada mais tem tanto significado do que se aprontar, ensaiar e aguardar perfumado o encontro. Passar as roupas é uma necessidade. Os vincos são desafiados com inusitada paciência. Depilamos a agenda. Compromissos sérios pulam de casas e horários. Antes imutáveis, as reuniões trocam de vôo de modo nervoso. O trabalho passa violentamente rápido. Não há o medo de ser demitido, o medo de se proteger, o medo de repetir as relações passadas, a segurança de prever. Cada um assume uma condição noturna, intermitente, o olhar abobado e a vontade excessiva. A imaginação pára a escrita em um só nome.

Aconselho a quem não tem tempo: apaixone-se. Perca a cabeça na guilhotina. Entregue seus pés para a espuma. Permita a cintura subir como um chafariz. Não pense que vai dar errado. O que pode dar errado já aconteceu antes. Dentro do tempo.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Amor de Fusca (inédito)



Abaixo um post inédito. A parte mais bonita está com aspas pq foi contribuída por um grande amigo. (Vou pedir primeiro, depois coloco o nome)
Tá cheio de erros pq eu to sem o Office pra escrever.

Na foto, estou com Júlia - o grande amor da minha vida - a Rainha do meu reino Animal. :D. Beijos a todos.

Não quero mais amores de ventania. Quero amar como uma brisa fresca soprando nos últimos folegos de uma onda.

Não quero mais amores de disparada. Quero amar como uma caminhada a beira da lagoa, uma trilha sob cheiro de mato.

Não quero mais amores lunáticos e interplanetários. Quero amores terráquios que têm a força e a constância do ar, o transparencia e o refrigério da água.

Não quero mais esses amores quentes como uma fagulha do Sol. Quero amores que sejam como a Lua - brilhantes, claros... de vez em quando, frio para que eu não me queime. "Quero o amor pra vida e não a vida pra um amor".

Não quero mais esses amores de insônia, daqueles que nos tiram a calma com batedeiras no coração e taquicardias. Quero um amor que seja tão simples e tão revitalizador como o sono dos justos, que faça meu coração acalmar, bater calmo, mas constante.

Não quero mais esses amores de sonho, daqueles que só se vive dormindo ou num transe amoroso. Quero um amor que eu possa viver acordado, enfrentando a vida com seus problemas e soluções. Quero um amor que eu possa viver de olhos bem abertos para a realidade mas fixos no futuro.

Não quero de novo um amor internacional. Daqueles que só se vive se estiver em Milão, Paris ou Nova York. Quero amar no Brasil mesmo, um amor genuinamente nacional; se possivel, nordestino - que apesar de preconceitos, não se rebaixa; que apesar da força incrível, não se ensoberba.

Não quero mais esses amores de cinema. Esses de sala cheia, premier dos famosos, ingresso disputado... Não! Quero um amor com a simplicidade e profundidade de um livro, nem precisa ser best-seller; só precisa narrar os fatos e ocultar os sentimentos - para que eu possa me esforçar quando buscá-los e me alegrar se desvendá-los.

Não pretendo mais ter esses amores que são um buquet de rosas. Sabe aqueles bem vermelhos, vinte botões!? Não. Quero um amor tão singelo como uma margarida branca, tão elegante quanto uma orquídea amarela.

Não quero mais esses amores de super-heróis. Daqueles Robin Wood - que roubam amores para poder existir; ou desses Homem-de-Ferro que, apesar de toda a durabilidade a socos e pontapés, mas que se enferruja com as coisinhas do dia-a-dia.

Não to mais afim de um amor doente e doentio. Antes, um amor curandeiro, no mínimo, benzedeiro para me livrar dos males ou me privar do azar.

Não quero mais carruagens, limousines, BMWs... Quero um amor que chegue de Fusca, daqueles que estalam nas ladeiras, solta fumaça descomedidamente, mas que chegam até onde qualquer outro carro chega - ou até mais longe.

Não quero mais esses amores de praia, amor de mar. Desses que apesar de amplo e espaçoso, são enfadonhos e afoga-se sem chance de ser salvo. Quero um "amor piscina", para que eu possa tocar a borda sempre que quiser. Sair sempre que precisar, voltar sempre que merecer.

terça-feira, dezembro 19, 2006

JOVITA

Perdi uma grande amiga hoje. Não sei demonstrar tudo o que sinto. Talvez não demonstrava toda a minha admiração pela sabedoria dela. De qualquer modo, chorei sua saudade, sua ausencia e sua falta. Talvez a tristeza de não tê-la mais aqui conosco seja o preço a pagar pela agradavel presença e cativante companhia. Por isso choro, sem maquiagem, sem pudor. Algumas coisas só são vistas por olhos que choram.

"Matamos o tempo e o tempo nos enterra" (Machado de Assis)

domingo, dezembro 17, 2006

SALMO CXXXIX


Mesmo que somente do ponto de vista literário, acho a Bíblia um livro interessante. Das considerações poéticas, por exemplo, Davi (O Rei Hebreu) botava pra quebrar. Uma das minhas poesias preferidas:


Davi com a cabeça de Golias
Giuseppe Cesari "Cavalier d`Arpino"
(Arpino, Frosinone 1568 - Roma 1640)
óleo sobre tela



Ó Jeová, tu me esquadrinhaste e [me] conheces.
Tu mesmo chegaste a conhecer meu assentar e meu levantar.
De longe consideraste meu pensamento.
Mediste minhas andanças e meu deitar ao comprido,
E familiarizaste-te até mesmo com todos os meus caminhos.

Pois não há palavra na minha língua,
Mas eis que tu, ó Jeová, já sabes de tudo.

Tu me sitiaste atrás e adiante;
E pões a tua mão sobre mim.


[Tal] conhecimento é maravilhoso demais para mim.
É tão sublime que não o posso alcançar.
Para onde posso ir do teu espírito

E para onde posso fugir da tua face?

Se eu subisse ao céu, lá estarias tu;
E se eu fizesse meu leito no Seol, eis que [lá estarias] tu!

Se eu tomasse as asas da alva
Para residir no mar mais remoto,
Também ali me guiaria a tua própria mão
E me seguraria a tua direita.

E se eu dissesse: “Seguramente a própria escuridão me pegará às pressas!”
Então a noite seria luz ao meu redor.
Até mesmo a escuridão não se mostraria escura demais para ti,
Mas a própria noite se iluminaria como o dia;
A escuridão bem poderia ser a luz.

Pois tu mesmo produziste meus rins;
Mantiveste-me abrigado no ventre de minha mãe.
Elogiar-te-ei porque fui feito maravilhosamente, dum modo atemorizante.

Teus trabalhos são maravilhosos,

De que minha alma está bem apercebida.


Meus ossos não te estavam ocultos
Quando fui feito às escondidas,
Quando fui tecido nas partes mais baixas da terra.

Teus olhos viram até mesmo meu embrião,
E todas as suas partes estavam assentadas por escrito no teu livro,
Referente aos dias em que foram formadas,

E ainda não havia nem sequer uma entre elas.

Portanto, quão preciosos são para mim os teus pensamentos!
Ó Deus, a quanto ascende a soma total deles!
Se eu tentasse contá-los, seriam mais do que mesmo os grãos de areia.

Acordei, e no entanto, ainda estou contigo.
Oh! que tu, ó Deus, matasses ao iníquo.
Então certamente se retirariam de mim até mesmo os homens culpados de sangue,

Que dizem coisas sobre ti segundo a [sua própria] idéia;

Tomaram [teu nome] dum modo fútil — teus adversários.

Acaso não odeio os que te odeiam intensamente, ó Jeová,
E não tenho aversão aos que se revoltam contra ti?
Odeio-os com ódio consumado.

Tornaram-se para mim verdadeiros inimigos.


Esquadrinha-me, ó Deus, e conhece meu coração.
Examina-me e conhece meus pensamentos inquietantes,

E vê se há em mim qualquer caminho penoso,

E guia-me no caminho do tempo indefinido.

WISHLIST


Meus amigos já são os maiores presentes que a vida me deu. Não posso querer mais.

Enfim, mesmo não podendo, o HOST deste site pediu que eu fizesse uma WISHLIST. Ei-la:

# R$ 60.000,00 para uma boa faculdade de direito.
# Perfume Uomini Black O Boticário
# CD 'These Are Special Times', Celine Dion.
# Sua amizade
# Seu amor
# Sua atenção.
# Você.

Não necessáriamente nessa ordem.
rsrs.. q bobeira.. xauzin

sábado, dezembro 16, 2006

Alguns dias eu sinto uma tristeza sem remetente e sem destinatário. Atinge meu coração e toma todo o meu ser. Sinto-me triste. Triste por estar triste.


Aonde cresci
do que já vivi
Não me lembro de nada na vida
que mais se pareça com amor
como lembro de ti

Na minha ilusão
O seu coração
é a peça perdida
no quebra-cabeças daquela emoção
que um dia perdi

Flor,
Minha vida tá despetalada sem teu amor
e parece que nada vai mudar
Chuva que cai sem parar
deixa no canto do peito
esse gosto de dor

Vem,
Eu guardei o meu tempo de vida
pra mais ninguém
Seja fogo de palha ou seja amor
Seja do jeito que for
só de pensar em você
já me faz tanto bem

sexta-feira, dezembro 15, 2006




Será que vocês, leitores queridos, não se cansam desse tema (amor)? Eu tenho esse medo. Por isso vou mesclando. Amanhã um texto inédito sobre meus 10 dias de Casa Bella Requinte. Hoje um poeminha pra aquecer o coração.


Não tive tempo


Não tive tempo de dizer que te amo mais do que churros com recheio de brigadeiro.

Não tive tempo para te dizer que, se pudesse, transferiria suas dores para o meu corpo a fim de livrar-te da aflição. Não tive tempo para te mandar mais músicas;

Não tive tempo para te dizer que sou calado, não por natureza, mas porque estando ao seu lado todas as palavras se escondem e a grandeza do momento faz-me esquecer o símbolo e até o som que as letras têm.

Não tive tempo de dizer que estava disposto a mudar, se preciso de cidade, de país, de planeta.

Não tive tempo para dizer que, precisando, mudaria meu jeito, meu corpo, meu rosto, meu gosto, meu desgosto, meu espírito.

Não tive tempo para dizer que a vida é tão doce estando ao seu lado que julgava não ser real – e era?

Não tive tempo para dizer que encontrei a chave da felicidade escondida numa das curvas do teu sorriso.
Não tive tempo para dizer que minha coragem, até então sempre falida, estava escondida no canto dos seus olhos – olhando para mim.

Não tive tempo para dizer que o mundo as vezes parava de rodar, que o Sol, por algum tempo, parava de brilhar, que a Lua por uns minutos, perdia a claridade e que o ar, só por alguns momentos, era irrespirável; até que você e sua alegria chegava – e o mundo tornava a girar, o Sol voltava a brilhar, a Lua continuava a clarear e o ar – seu ar – entrava saciando meus sôfregos pulmões.

Não tive tempo para te dizer que eu, apesar de feio e pobre, tratar-lhe-ia como se trata a mais nobre das rainhas, a mais destacada de todas as princesas. A cada manhã, solto pela nossa casa, rosas de uma primavera inesquecível. A cada entardecer, folhas de um outono saudoso. E a cada noite, o aconchego das colchas do inverno. A rainha de um reino distante. A princesa de um império abastado. Rainha dos meus sonhos. Princesa do meu coração.
Não tive tempo para dizer que as paisagens – secas e enfadonhas – tornavam-se férteis e originais quando o louvor do nosso amor era espalhado sobre elas.

Não tive tempo para dizer que com o tempo acabaria te entendendo, conhecendo-te mais e mais e, exatamente por isso, amando-te hoje mais do ontem, amanhã mais do que hoje – sempre mais do que nunca.

Não tive tempo para dizer que a complicação do mundo recuava na mesma simplicidade do seu jeito. Não tive tempo para te dizer que sempre esteve ainda mais linda cada vez que nos deparávamos.

Não tive tempo para dizer que sempre me esforcei ao máximo para melhorar meu aspecto aos nossos encontros e que, se não estive ao seu agrado, tentaria melhorar mais.

Não tive tempo para dizer que meu coração era pequeno, frágil e inexperiente e por esse pretexto depositei-lho em suas mãos, julgando que saberias lidar com ele.

Não tive tempo para dizer que meu maior desejo era lutar contra tudo e contra todos e que, mesmo perdendo, seria bem-aventurada minha campanha contra o mundo – se apenas estivesse rindo comigo em alguma esquina da cidade esperando a chuva passar.


Não tive tempo para dizer que todos os meus sonhos foram feitos novos e que nos mais intrínsecos apenas adicionei um parágrafo – nós – e um inciso – você. Não tive tempo para lhe dizer que, como um anjo, você protegeu-me do frio na alma, da morte no peito, do infame fantasma da solidão.

Não tive tempo para dizer que as sombras eram dissipadas; que o passado era ocultado; que o futuro era esclarecido e que o presente... o presente era indigno de minha insignificância. Não tive tempo para dizer que as estrelas caíam sobre a minha cabeça cada vez que chegava a hora de despedirmos e que a esperança de ver-te novamente, em breve, era o que as ajudava a voltar para o céu.

Não tive tempo para dizer que escrevia um diário; um registro sistemático dos nossos momentos, da nossa pugna contra o preconceito, a ignorância, o desequilíbrio e contra o tempo. Um assentamento, em poucas palavras, de minutos tão grandiosos como todo um idioma não pode ser. Um diário, que como esse texto, como tudo na vida, como até nosso afeto, termina seco e melancólico, com a pequenez e a mediocridade desse um ponto final.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

HUMOR> NARRATIVA> NA BOCA DO POVO

Mais um ensaio literário, categoria narrativa. Eu não gostei muito, mas espero que gostem. Beijo a todos. Ah, esse quadro é de Guido Viaro, Fofoqueiras (1943).



Na Boca do Povo

Mas não é que o Alemão caiu na boca povo?!

Renata chegou para almoçar com Josana. Josana, coitada, fez uma plástica no ano passado, que acabou afetando sua audição. “O que os homens olham não são os ouvidos, o que eles olham é...”, costumava justificar. Renata chegou e achou o restaurante cheio. Josana estava sentada bem no meio do recinto.
- Jô, amiga! Eu preciso te contar umas coisas que vão fazer você pirar.
- O que é isso, Rê? Respeite-me! – contestou a companheira.
- Menina... – gostava de fazer suspense – Eu acabei de ver o Alemão com uma mulher dentro do carro!
Josana havia virado seu ouvido direito em direção de Renata, era o ouvido com que melhor ouvia.
- Mentira! O Alemão, que é casado com a Priscilinha?
- O próprio! – confirmou Renata.
- Meniiiiiina! – com os olhos parados e boca aberta. Eu não acredito... Cachorro! Eu vou ligar pra Juliana agora, meu amor. Ela precisa saber dessa história do cunhado dela... – procurando o celular na bolsa, revoltadíssima. Vai me contando, vai me contando...
- Eu não vi direito, mas a mulher estava de vestido...
- Alô? Jú? Minha amiga! Se estiver em pé, senta. Seeeeeeenta porque o que eu vou te contar... Olha, o Alemão, seu cunhado, acabou de ser visto com uma amante... – tapando o fone e virando-se pra Renata à sua frente – Ela está AR – RA- SA- DA! Conta mais...
- Fala pra ela – começou Renata – que ele estava lá em frente àquele quartel, na esquina da Raimundo.
- Jesus!!! Jú, me escuta! Ele estava em frente o motel “Prazeres do mundo”! Cada nome que dão pra essas coisas, não?
Renata ria e tentava consertar.
- Como era a moça?!... Como era a moça? – repassou a pergunta da Juliana.
- Ah! Eu vi que estava de vestido longo e preto.
- Hmm, Jú, Vestia um vestido curto, preto e vermelho.
Já não era a surdez, era pura maldade da parte de Josana.
- Mas eu tinha ouvido falar que ele era crente... – pensou alto Renata.
- E ó! Rê está dizendo que o negócio tava quente! É, meu bem! Esse povo, hoje em dia, não perdoa. Uma hora dessas, né?!
- Não! – depois de rir, Renata tentou consertar o engano – Eu disse que eu achava que o Alemão era puro, casto.
- Que foi?... Ah! Então, Jú... É isso mesmo! Num puro amasso!... Ahã... Ahã.... Espera aí... Rê, ela quer saber se mais alguém viu.
- Eu acho que sim. Estava cheio de gente na rua.
- Santo Pai das Alturas! Juliana, minha amiga, escuta: a Rê tem certeza que todo viu porque estava muito indecente e a mulher estava toda nua! Você acredita? Aquele salafrário, com aquela carinha de Santo?! Hã!!! Eu conheço esse tipo. – continuou Josana, colocando as ênfases nos lugares mais apropriados. – O quê? Ah... Rê, ela quer saber se você viu a cara da sirigaita.
- Não. – disse, decepcionada – A mulher estava com um... lenção na cabeça.
- Ah, tá... Jú? Ela viu; disse que é um canhão, uma tristeza! Pois é, esses homens de hoje... Meu falecido, pelo menos, não era disso... Mas, (não é, Rê?) eu sempre achei o Alemão tão bonzinho!
- Mas quem mandou ser incauto?! – retrucou Renata.
- É? Olha só, Jú! Rê disse agora, que estavam com um maior som alto.
- Não foi bem assim, Jô... Pergunta se ela vai contar pra irmã!
- Hã? Ah, tá! Jú, a Renatinha quer saber se você já provou do Don Juan.
- Que isso, Jô! – Renata indignou-se – Quero saber se ela vai contar pra Priscila!
- Ah, claro! Um calhorda dessa categoria merece um castigo! – adiantou a viúva.
- Você sabia que ele é bombeiro? – pergunto a amiga que já almoçava.
- Oi? Ah, sabia! Claro! Isso mesmo que ele é... É um bis... Que foi, Jú? Ah, está bem. Eu também vou desligar; eu preciso almoçar porque eu estou passada com essa história... Tá bom... Ahã... Claro que eu vou com você! Isso... Tchau, amiga...
- Não foi exatamente assim como você falou Jô... – tentou Renata.
- Foi pior?! Por isso que eu falo, Rê, homem não presta. O meu prestava... Um verdadeiro tesouro! Tanto que até enterrei ele. – concluiu a viúva.
As duas riram e voltaram para o almoço.
No mesmo dia, Priscila foi para a casa da mãe. O Alemão ficou sozinho e, numa mesa de bar, jurou por Deus e por si mesmo que nunca mais daria a carona à nenhuma das freiras do convento da Rua São Raimundo.

sábado, dezembro 09, 2006

DOIS DE JULHO

Escrevi esse poema já faz um tempo para Ariaidny, aqui de Caetité - BA, uma grande amiga que eu tenho muita consideração e respeito. Por hoje, só.


DOIS DE JULHO

Procurarei pela escuridão da noite;
Procurarei na densidade dos mares;
Procurarei pelas trevas intocáveis;
Procurarei nos rumores das vozes humildes;
Procurarei nos olhares das cabeças baixas;
Procurarei pelas ruas estreitas e campos abertos;
Procurarei nos sonhos que havia esquecido;
Procurarei nas forças que julgava perdidas;
Procurarei no Sol que acalenta queimando;
Procurarei na Lua que fascina e inspira;
Procurarei nos cantos da esfera azul;
Procurarei atrás de cada porta que atravessar;
Procurarei nos templos e catedrais mais laboriosas;
Procurarei nos termos de compromisso assinado com o tempo;
Procurarei nos perfumes que alguns seres exalam e nos que outros seres criaram;
Procurarei nos livros mais empoeirados, nas bulas mais breves e nos códigos mais indecifráveis;
Procurarei nas dores que senti e não esqueci;
Procurarei nos cômodos sob a luz de uma lamparina quase apagando;
Procurarei no frescor do ar livre e no mal-estar da sufocação;
Procurarei na saudade de quem ainda nem chegou;
Procurarei na facilidade com que digo ‘sim’ e na minha vontade de dizer ‘não’;
Procurarei nos tons de azul que o céu costumava apresentar;
Procurarei na insânia dos risos e no vício do mal-humor;
Procurarei nos ventos que chegam sem dizer por que e que vão sem explicar para onde;
Procurarei na doçura dos animais e na rudeza dos humanos;
Procurarei na injustiça dos vivos e na implacável imparcialidade da morte;
Procurarei pelos corpos que passam por mim unidos pelas mãos, braços, coração e alma;
Procurarei nos artigos e incisos da Constituição da República;
Procurarei nas páginas mais brancas do Alcorão e da Sagrada Escritura;
Procurarei em todos os idiomas;
Procurarei nos meus pecados e nas minhas virtudes;
Procurarei nas minhas intenções e nas pretensões;
Procurarei em vida e in memorian;
Procurarei nas mentiras com as quais vitimei e nas verdades com as quais fui vitimado;
Procurarei no universo infinito e no cosmos indefinido;
Procurarei nos ditos populares;
Procurarei nas cartilhas para leitores mais seletos;
Procurarei nas minhas dúvidas mais simples e nas minhas certezas mais complexas;
Procurarei nas lembranças de ter suas mãos – fortalezas frágeis – agarradas às minhas;
Procurarei em cada segundo que vivi e em cada ano que ainda não chegou;
Procurarei no fogo que tudo destrói e no amor que tudo constrói;
Procurarei no sangue que derramarei;
Procurarei nas lágrimas que agora se precipitam dos meus olhos;
Procurarei na minha tolice;
Procurarei na minha madureza;
Procurarei na minha garra, na minha convicção, na brigas que ganhei;
Procurarei em tudo o que já escrevi;
Procurarei em tudo o que já escreveram;
Procurarei na sabedoria, na justiça e no poder do amor;
Por mais longe que esteja, por mais inacessível que seja e por mais ligeiro que o tempo insista em passar...
Encontrarei e porei em suas mãos presentes vindos de um ocidente oriente: um futuro e um amor.
Sobre o futuro, sendo este fugaz, pouco direi, apenas afrontarei.
Sobre o amor, sendo este real, garantirei: infinito por ser infalível; infalível por ser infinito.

Fábio Henrique

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Toma que é teu



Escrevi esse e-mail nos pouquissimos minutos de folga nesta tarde de inauguracao da Casa Bella Requinte. Sem almoço, sem sossego... tanta gente... tanta pergunta... tanto stress. Tive uma pequena crise se stress ao chegar em casa. Passou. Desculpem pelo texto de hoje. Tá fraquinho.


Toma que o coração é teu

Por favor, segure com cuidado.
É objeto frágil. Já foi remendado com alguns adesivos de sonhos, colado com ilusões... Mas é teu, todo teu meu coração.

Não tendo mais dominío sobre o objeto, deposito-lhe em suas mãos magras. Não é contrato de locação. É doação mesmo. Doação, não. BOnificação. Como retribuir todo o seu amor? Como pagar por todo o seu carinho? Procurei nos bolsos vazios, procurei na mente cansada... procurei no meio do meu peito e encontrei-o, enfim.

Toma. É teu. Não se preocupe: não o vou querer de volta. Não uso mesmo. Ele apenas bate aqui sossegado, desobedecendo aos meus mandos. Cansei de tê-lo. Quem sabe terás mais destreza ao lidar com este coração imcompreendido. Coração que procura amores para se aquecer, e que depois procura amargura para se esfriar. Quem sabe não poderá ser mais feliz na manutenção dessas várias peças falidas da minha engrenagem cardíaca.

Só lhe peço cuidado. Mentira, falar sem pensar e pensar sem falar faz meu coração desesperar-se, ameaçando todo o resto do meu ser. Com a verdade, sinceridade e cumplicidade, o portador tem um coração sem prazo de validade definido.

É um coração de menino. Não tem muito juízo. Troca o certo pelo errado. Paga o preço da justiça. Cobra o lucro da verdade.

É um coração cigano - inconstante no lar. Ora reside no perfume dos seus cabelos, ora está morando no brilho celeste dos seus olhos...

É um coração vagabundo. Preguiçoso para as despedidas. Lânguido para esquecer velhas amizades. Procrastina o último beijo. Gosta de reticências... Não coloca ponto final em nada

É coração de poeta frustrado. Amante da arte de talhar os momentos imensuráveis olhando no fundo dos olhos do amor da sua vida na simplicidade das letras. Só vinte e seis letras. Como cabem? Poeta sonhador. Quer que o mundo lhe reconheça. Mas não nega preferir ter seu amor como único fã.

Negócio fechado, então? Por ser dado assim, sem muito esforço, temo que não reconheça seu valor e trate-o assim de qualquer maneira. Não, por favor. Devolva-o já, se tiver dúvidas de suas habilidades no trato cardíaco de alheios.

Coração errante. Tão ignaro e tão sábio ao mesmo tempo. Tão ignaro por se apaixonar assim facilmente, de mãos beijadas... E tão sábio por te escolher.

Coração impaciente. Esperou vinte anos para te encontrar e padece bem lá no fundo nos seus cinco minutos de atraso. Esperou tanto e tanto para ver e sentir-te chegar à minha vida e fica próximo de um desatino por passar apenas uma tarde sem um toque seu.

Seja como for, é teu. De hoje em diante, tu o definirás, tu decidirás sobre seus jeitos e escolhas. Eu já não o posso mais. Apenas olho para meus dedos com a cara de um moleque que esconde segredos...
Escondo segredos...
Me escondo...
Te olho...
Te amo.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Carta Pública a Santos Dummont


Esse meu texto é um pouco antigo. Achei-o revirando minhas pastas aqui. Espero que gostem. Muito obrigado pelas visitas!



Caetité – BA, 06 de dezembro de 2006.


Prezado Santos Dummont,

Venho agradecer-lhe formalmente tudo o que fizeste por nós. Sei que não está mais nesta Terra, ou está ainda mais plenamente. Ainda assim, sou-lhe grato. Sim, também pelos aparelhos barulhentos e velozes. Mas, ainda mais, por tornar o impossível alcançável.

Voar. Até o verbo que arranjaram é formoso. Tem uma leveza própria do ato que denomina. Todos voam! Uns custam aprender, precisam então das máquinas e do dinheiro. Outros custam descer dos céus; voam a todo o tempo, não pagam muito e bem por isso abusam da liberdade de ter asas.

Encontro-me, ilustríssimo Senhor Dummont, no último caso. O dinheiro não deu para entrar em uma das suas máquinas. Necessitei aprender a voar de instrumento diverso.

Montei-o, com muito esmero, aqui mesmo em meus pensamentos. Os assentos são algumas nuvens que entraram pela minha janela no inverno. Se tem faróis? Como não teria? As estrelas cadentes não realizaram meus pedidos, confinei-as, portanto, a suprirem as luzes que minha máquina careceu.

Os homens, senhor, não usam mais as hélices. Acham-nas sem segurança. Em meu aparelho de voar, mantive-as. A juventude, a meninice, o ‘não preocupar-se’ infantil e a ingenuidade começaram a escorrer de minhas mãos; por pouco não as detenho, por pouco fico sem as quatro hélices de minha aeronave.

O motor é potente, não nego. Não espalha ruídos nem fumaça. Dentro da engrenagem achará umas correias de amor, rolamentos de saudade, um dispositivo de amizade verdadeira e dutos de compaixão por outros. Havia também ódio, tinha também inveja, ainda portava algumas faíscas de um amor perdido; mas estes estavam muito pesados, faziam-me perder a altura.

O querosene, esmerado Senhor Santos, estava muito cara. Pesquisei, sim! Mas não pude pagar a exorbitante cifra que me pediram. Nem por isso fiquei no chão. Enchi o tanque com sonhos; meus sonhos de menino que não tinham mais nenhuma serventia. Engasgou um pouco, talvez até previsse; mas alçou vôo e, no cantinho mais azul do céu, fez belas acrobacias.

Enfim, está pronta! Viajo por entre rios cristalinos e mares azuis, montanhas de esperança e vales de medo. Encontro amigos. Encontro amores. São as asas que me separam do mundo real e do universo de ilusões (apesar de às vezes não saber distinguir qual dos dois é o verdadeiro).

Sempre que a saudade dói, sempre que falam que sou o que não sou, sempre que falam que não sou o que sou, sempre que quero vê-lo, sempre que quero achá-la, sempre que ninguém me entende ou quando eu não consigo entender ninguém... nessas horas, giro a chave, feita com o tempo, e elevo-me para mais perto das nuvens; fico diante das estrelas; dou uma ou duas voltas no Sol. Por onde passo, deixo um pedaço do meu coração. Acha isso insensato, Santos? Que nada! É só uma desculpa para poder voltar.

Atenciosamente,

Fábio Henrique

Por que POETA DAS NUVENS?

Por que Poeta das Nuvens?

Um grande amigo desde a infância - Bruno Sarti - presenteou-me - um pouco ironicamente, é bem verdade - com esse codinome ao ler o texto abaixo. Gostei e Adotei. Agradeço-o de público.
Obrigado a todos pelas visitas tbm.



Sobre Amigos e Nuvens

Quando era pequeno costumava deitar no chão do quintal para olhar as nuvens.
Passavam... Voltavam... Juntavam-se umas nas outras... Sumiam! Então, o azul era tão intenso que eu pensava, as vezes, que podia levitar alguns palmos do chão.

Algumas nuvens eram pesadas – passavam de..... va.... gar.... mas iam embora. Outras eram leves, puras e imaculadas e passavam com pressa rumo outros céus de outros meninos sonhadores... ou desvencilhavam-se com a brutalidade imperceptível do vento.
Tenho saudades das nuvens. Hoje, a correria dos dias não permite mais que eu me deite no chão para observá-las.

Nuvens são como pessoas. Algumas são carregadas, fechadas – escurecem o ambiente. Essas demoooooram de ir embora... ficam paradas sobre nós, observando e julgando nossos atos. Ameaçam derramar sua chuva em nós e leva-nos a afastar e nos esconder.

Outras são alvas e leves. Inspiram admiração em nós, brindam-nos com sua paz, com sua calma e sua compreensão. Não ameaçam derramar pesadas gotas de desconfiança. Ao contrário, quando o Sol das dificuldades queima nossas mentes e ofuscam as soluções, essas pessoas – nuvens cândidas – abrandam nossas idéias e presenteiam-nos com sua sabedoria silenciosa e inteligência muda. A presença é paz. A companhia é a serenidade.

Em geral, essas nuvens passam rápido pelos nossos céus da vida. O vento varia e lá vão elas para outros céus... e lá se vão elas dissipando-se com a fúria velada de uma brisa mal-intencionada.

Na vida, encontrei pessoas que me mostraram com franqueza meus defeitos. Não tiveram ‘jeito’ para falar. Foram francas, rudes e insensíveis. Eu as agradeço, sinceramente.
Porém, também na vida, encontrei pessoas que buscaram no meu ser qualidades que eu mesmo julgava não existir. Foram carinhosas, afetuosas e afáveis. E essas eu amo, sincera e intensamente.
Sempre soube que eu tinha defeitos, sempre me concentrei neles e eu vivo por quem me ajudou a encontrá-los.
Fui uma surpresa descobrir que também tinha qualidades, nunca as tinha valorizado. E eu sou capaz de morrer por quem me auxiliou em desvendá-las.

Queridos amigos, nuvens do meu céu, eu vivo e morro por vocês. Se precisarem, não importa o que seja, me chamem e eu estarei pronto para rir ou chorar, construir ou derrubar ao lado de vocês.

Se, de algum modo, eu mesmo fui o vento que os fiz dissipá-los do meu céu, por favor, me perdoem e me ajudem a ser a mesma brisa leve que os fará voltar.

Nada que eu possa estar fazendo AGORA é mais importante do que ajudá-los a encontrar a paz e a felicidade plantadas, na criação, dentro de cada um de nós.

Me liga, me chame, me grite, me mande e-mail... me ajude a faze-los felizes – isso é a minha felicidade.

Vocês são a força que move meu coração. Obrigado!

terça-feira, dezembro 05, 2006

RIFA-SE UM CORAÇAO


Rifa-se Um Coração

Um coração idealista.
Um coração como poucos,
Um coração a moda antiga.
Um coração moleque que
insiste em pregar peças em seu usuário.


Rifa-se um coração que na verdade está um pouco usado,
meio calejado,
muito machucado,
e que teima em cultivar sonhos e alimentar ilusões.
Um pouco inconseqüente e que nunca desiste de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração que acha que
Tim Maia estava certo quando escreveu e tão bem cantou:
"NÃO QUERO DINHEIRO, QUERO AMOR SINCERO, É ISSO QUE EU ESPERO..."
Um idealista, um verdadeiro sonhador...

Rifa-se um coração que nunca aprende,
que não endurece e mantém sempre viva a esperança de ser feliz,
sendo simples e natural.
Um coração insensato,
que comanda o racional sendo louco o suficiente para se apaixonar.

Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros.

Esse coração que erra que briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos.
Este mesmo coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.


Rifa-se este desequilibrado emocional que abre sorrisos tão largos
que quase dá para engolir as orelhas,
mas que também arranca lagrimas e faz murchar meu rosto.
Um coração para ser alugado ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado, apenas indicado para quem quer viver intensamente,
contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.


Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco seu usuário.
Um coração que quando parar de bater ouvirá o seu usuário dizer a São Pedro:
--- "O Senhor pode conferir, eu fiz tudo certo",
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança que insiste em não endurecer e se recusa a envelhecer.


Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga tão carinhosamente.
Um coração que não seja tão inconseqüente.


Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda não foi adotado,
provavelmente, por ainda se recusar a cultivar ar selvagem ou racional,
por não querer perder seu estilo e sua verdadeira identidade.

Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos,
que mesmo estando no mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra, constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta.
Clarice Lispector

segunda-feira, dezembro 04, 2006

FABRICIO CARPINEJAR

Desculpem a demora. Culpa do provedor.
Gente, o bom de ser fã de um poeta vivo é que você pode, mesmo sem vc acreditar muito, receber um e-mail dele. Nem é possível medir minha felicidade com palavras. Será que foi mala direta?
Fabricio Carpinejar (carpinejar@terra.com.br) +Adicionar contato
Para: fabio_inrik@hotmail.com
Assunto: (Sem Assunto)

oi meu amigo
eu leio os comentários. e torço pelo teu sucesso. o bom poema é o que não precisa de sinônimos, é o que significa antes mesmo de ser todo lido.
abraços
Fabro