terça-feira, junho 26, 2007

Comerciais


Já reparou que há comercias na televisão para homens e mulheres? Dependendo do público, as características mudam completamente. Sempre, todavia, fica evidente a inferioridade do homem. As mulheres fazem isso conscientemente – elas nos deixam pensar que sãos os homens que mandam, que temos as grandes idéias... no entanto, tudo não passa de um extinto materno de não ferir o orgulho da cria.
Bem, mas quanto aos comerciais, repare, por favor. Comercial de mulher é propaganda da absorvente, creminho para a cara, sabonete íntimo e os outros bilhões de cosméticos que já inventaram. Nenhum comercial feito para mulher tem cores escuras ou muito quentes (amarelo, vermelho, laranja (Tanto isso é verdade que, nos comerciais de absorventes, o sangue é azul, nobríssimo!)). Pelo contrário, a imagem tem bastante brilho, as cores são suaves – um verdezinho, um lilás, um azul claro.
Os cenários são sempre caseiros. Ou a atriz está no banheiro, ou na cozinha toda equipada ou na sala. Há, muitas vezes, uma cortina esvoaçando pelo vento que entra. São coisas singelas, simples mas vitais... coisas de mulher. Outra coisa exclusiva dos comerciais feitos para mulher é a narração. Em geral, uma outra mulher com uma voz doce e calma – uma voz amiga –, quase que sussurrando o texto.
No comercial para homem a balburdia assenta acampamento. Os mais clássicos são os de cerveja. Já reparou que todo comercial de cerveja tem uma música ou bordão que todo o bar grita? É! Eles ficam lá gritando batendo as mãos e gritando desesperadamente: "PEDIU BRAHMA PEDIU BEMMMM!"; "OU SEJA, CERVEEEEJA!". Por que isso? Parece-me que é que nós, homens, temos as faculdades perceptivas menos destras, então, se eles não berrarem para a gente se chafurdar na cerveja... é como se não escutássemos.
Além dos gritos, os comerciais para homem têm de oposição aos para mulheres é o cenário. Comercial masculino é sempre ao ar livre ou no comércio – se for cerveja, é na praia ou no bar; se for de carro, combustíveis e derivados é numa estrada numa área completamente deserta, sem mais carros e sem construções. "Só Você! Só Você!" – é o egoísmo masculino.
Também tem as cores. Cores quentes ou escuras. Por exemplo, os rótulos das cervejas são quase todas vermelhas ou amarelas: Nova Schin, Skol, Brahma e a nova Sol. E quanto aos carros e combustíveis é, em geral, de noite. Repare o comercial do Pálio acontece de noite e num túnel! Se não forem noturnos, são bucólicos como os dos outros carros que tem a estrada deserta e o céu cheio de nuvens ou amanhecendo ou escurecendo. Em comerciais, as pessoas só param no posto de gasolina de noite. Estranho isso.
Ah, e não pode faltar mulher num comercial para homem. Acho terrível que mulheres se submetem a esse tipo de coisa, mas eis a superioridade! No comercial de destilados, a mulher está linda e loira numa festa. No comercial de aparelhos de barbear a mocinha está lá no banheiro, de pijama, alisando a cara do ‘modelão’. Nos de cerveja o nível despenca: as mulheres ficam de biquínis – com amigas – se insinuando para os gritadores de plantão. Se estiverem de roupa, como nossa amiga Carol Castro, o decote desafia algumas leis de Newton, e quase todas de Bento XVI.
Falando em comerciais, tem até alguns que são feitos para gays, sabia? As propagandas da Coca-cola são os exemplos mais dignos. A começar pelo slogan: "Viva a diferença!". Uuuui, se entregou, hein?! Hehe. Mas isso já é uma oooutra história.

segunda-feira, junho 18, 2007

Primeira Conjugação



Primeira Conjugação
Para minha mãe.


Poema do meu ofício particular:
Arte barata de insistir em rimar,
Feito para quem já cansou de amar.
Vem, pode chegar!
Talvez aqui aches teu lugar –
No meu coração, entre minhas dores de lamentar
E poucos amores de pra recordar e cantar.
Vem, pode embarcar!
Esqueça velas de navegar,
Basta teus olhos fechar
E no teu peito assoprar.
O amor tem brisas que nos faz sonhar.
Os sonhos têm ventos que nos faz amar.
Não impeça! Tem que deixar
As profundezas do teu ser transbordar;
As estrelas de um novo amor brilhar –
Só para guiar – um amor que vem aportar
Nessa vida feita de nuvens e mar.
Esquente o corpo. Esfrie a mente. Solte seus risos no ar.
O amor sempre chega mandando o coração, enfim, estrear.
Mas se te fizerem sofrer, não receie parar;
O amor verdadeiro vem sempre com a chance de recomeçar.

A Cartomante (by Menino da Lua)


Lembra do Gustavo? Ele voltou.

Gustavo, nosso herói, esperava o futuro. As coisas pareciam atrapalhadas com pingos do passado maculando bocados do futuro e tingindo diametralmente o presente.
Andava pelas vielas estreitas da cidade como que procurando respostas nas grandes pedras no chão ou nas eiras das casas ao alto. E se as achassem, quais eram as perguntas? Nada era claro. Imaginava-se estagnado sobre um punhado de areia movediça e, a cada tentativa de desvencilhar-se, via-se mais gravemente submerso.
Eram oito da noite. Com as mãos no bolso e olhar perdido, Gustavo passou por uma rua mal iluminada, o único poste com luz pública divulgava, à altura dos olhos, numa folha simples e que poderia facilmente ter passado despercebida:
Madame Isabel Castela
Cartas Ciganas
Sorte. Futuro. Respostas.
Asneiras! Crendices! Cultura inútil, pensou. Passou adiante. Na esquina um vento frio pedia passagem. Gustavo cerrou os olhos. E reacomodou-se nas blusas que o agasalhavam. No mesmo vento – um desses ventos com remetente, destinatário e anexos que voam por aí – veio uma lembrança infantil de Gustavo.
Aos doze anos, num parque de diversões na capital, por incitação de um primo que visitava, entraram os garotos na barraca de uma espanhola. O cheiro de incenso, como sempre, fez-lo se sentir leso. Ambos achavam graça da situação. Os primos dividiam a mesma cadeira em frente à mesa colorida da cartomante. Ombros caídos e olhos colados nas cartas que ela virava. Estavam de férias. Começo do ano. A tal cartomante do parque, na barraca de luz baixa, disse coisas sobre o futuro do primo. Errou tudo. Sobre o seu, apenas se lembrava do que a mulher tinha acertado. "Grande mudança este ano".
"Grande mudança..." O vento trazia aquele parque com as palavras da cartomante. Naquele ano, Gustavo deixou a vida serena do interior e mudara para a capital. ‘Coincidência’, apenas isso. Com doze anos, é normal grandes mudanças acontecerem. "Grande de uma charlatona", disse aos pais e tios naquele dia. "Charlatã", corrigia o pai. Porém, Gustavo também estava certo. E as cartas... coincidência ou não... ainda mais.


Caminhando entre essas e outras lembranças, mais adiante reparou num poste com publicidade igual a anterior. Só agora, porém, Gustavo reparou no endereço.
Madame Isabel Castela
Cartas Ciganas
Sorte. Futuro. Respostas.
Rua General Osório, 495
Não era, como não desejava querer, caminho de sua casa. No entanto, ainda era possível uma passada rápida pelo endereço, sem que isso lhe causasse atraso. Caminhava a esmo. Agora tinha uma direção.
Uma rua suavemente inclinada, estreita. Os passos de Gustavo nas pedras ecoavam nas janelas e portas rentes ao passeio. Ali era o 495. Desacelerou o ritmo. Passou curioso pela casinha de uma porta e uma janela. O azul da parede era gasto ou mal pintado. Junto ao marco da porta, os tijolos expostos, ferida no reboco antigo. Dois degraus saiam do meio fio e chegavam à porta de madeira, pintada de branco. Procurando sinais vitais, Gustavo notou numa luz fraca que vinha de dentro, bem ao fundo.
Num ruído que lhe assustou, a porta de abriu. Gustavo ainda tentou disfarçar a curiosidade. Uma senhora muito maquiada, de cabelos longos e armados agradeceu e saiu. Atrás dela, como a espreitar os caminhos da cliente, estava Madame Isabel Castela.
A cliente desceu a rua. Gustavo subia, procurando analisar aquela de quem vira nos postes.
- Não quer entrar?
O menino surpreendeu-se com a pergunta. Não queria. Mas por que passava por ali? Virou-se para ela e viu-a sobre a luz da rua. Meia idade. Óculos discretos. Gordinha. Cabelos pouco avermelhados e pele clara. Sorria discretamente. A imagem daquela cartomante de parques, praticamente assim fantasiada era diferente desta agora a sua frente. Sem jóias. Sem saias compridas e rodadas... pra que mais enrolar? Gustavo entrou.
Isabel conduziu o rapaz para o fundo da casa. Estava escuro lá dentro. Passando pela sala, sob a luz fulgurante da TV, havia uma senhora muito idosa numa cadeira. Aquilo lhe fez lembrar sua bisavó que, naquela noite no parque, advertira: "Não é direito moço cristão – como vocês – se arrastar pra essas catimbas". Os primos riam das palavras estranhas da velha. Mas o conselho não tinha graça. Era sério. Uma brisa intrometeu-se na casa antes que a porta se fechasse. Trouxe aquele conselho a Gustavo.
- É minha mãe de criação. Vamos?
Nem havia reparado que estava parado em frente à velha e sua TV. Continuaram até a cozinha, onde Isabel mostrou-lhe a cadeira e sentou-se logo à frente. O baralho ainda estava na mesa. Isabel tomou-o e começou a embaralhar com os olhos fixos na carta. Gustavo não sabia o que dizer. Queria ir embora, mas usara todas as suas forças para entrar. Estava moralmente fraco para recuar.
- Futuro... sorte... respostas?
- É – respondeu o garoto – preciso disso. Virar adulto não é fácil, concluiu num sorriso amarelo.
- Mas ainda é menos difícil que ficar velho.
‘É, deveras...’ pensou o rapaz, ficando em silêncio.
- Amor, primeiro?
Gustavo assentiu.

Após um silêncio onde só ouviam o farfalhar das cartas umas nas outras, ela fez um leque e pediu que ele escolhesse uma carta. "Esta". Isabel virou a carta e Gustavo pode ver a figura de uma barraca, parecida com aquela do parque, e duas palavras óbvias. "Barraca Cigana".
- As cartas indicam sucesso, prosperidade... êxito nos empreendimentos... Se as coisas estão ruins... como você vê... elas melhorarão em breve. Espere boas notícias... no campo amoroso.
Isabel falava fazendo pausas. Agora dinheiro. Outro leque. Outra carta. Gustavo hesitou por um pouco. Amor era coisa que ele levaria sem, de um jeito ou de outro. Mas esse assunto – sua maior necessidade atual – imposto pela cartomante era algo delicadíssimo para se tocar em um lugar que ele sabia definitivamente que não deveria estar. "Essa aqui."
Gustavo viu um desenho de uma torre, talvez isso, sendo alvejada por flechas. "Prisão". Isabel suspirou e disparou:
- Inquietação... dificuldades... fracassos... grandes perdas.
Gustavo, num suspiro, deixou escapar um ‘não devia ter vindo’.
Isabel ergueu o pescoço, encarou o rapaz de frente e lhe disse:
- Você só acredita quando as respostas são favoráveis a você?
O menino não esperava aquela incisiva questão filosófica ali. Calou-se com os olhos sobre a carta. Sentiu-se arrependido de ter entrado, independente do que a cigana podia pensar. Queria sair logo. Enfadava-lhe aquela mobília da cozinha, aquela calma de Isabel... madame Isabel... ou seja lá qual fosse o verdadeiro nome dela. Quis saber quanto ele lhe devia.
- O quanto puder, respondeu-lhe calmamente juntado as cartas, e acrescentou: O quanto quiser poder.
Gustavo tirou quatro reais do bolso, numa atitude grosseira de jogar em cima da mesa e sair procurando a porta da frente, como querendo livrar-se de tudo o que o ligara àquela senhora.
Ganhou rua. De cara fechada. Retornou o caminho de casa. Pensando muito em querer não pensar no que vivera.
Lá dentro, Isabel ia passando pela sala com a TV já desligada.
- Isabel?, chamou a velhinha, ainda na cadeira na sala.
- Senhora?
- Você acha que essas coisas que você dia a essas pessoas todas que estão vindo aqui diz acontecerão?
Isabel encostou-se à parece atrás de si e olhou a sombra da luz pública entrando pelas telhas.
- Acho que... estou quase certa que não, mamãe.
- Então por que...
- Essas pessoas têm várias perguntas e nenhuma resposta. Eu só...
- Você dá respostas erradas, num tom que poderia ser encarado como reprimenda.
- Mas se elas me procuram é por que não suportam mais essa ‘omissão do destino’ em lhes responder. ‘Paciência é virtude’, não é o que Shakespeare diz? Quem passa por aqui são impacientes completos e inveterados. E pra impacientes, mamãe, qualquer resposta – mesmo a pior – é bem melhor que o silêncio.
Deu boa noite e foi pro quarto.

Gato de Programa




Oi, tudo certo? Quanto tempo, hein?! Olha eu aí do lado numa foto mais recente. Esse meu novo visual é pela peça que estou estreando em... rsrs. brincadeira... é falta de auto-cuidado mesmo;
Lê aí um ensaio:
Gato de Programa

Gosto de gatos. Sobretudo, os felinos. Tempos já passaram desde que estou privado da companhia mimosa da doce Júlia e sua filhinha – duas gatinhas mimosas e de alto garbo. Saudoso o tempo em que Júlia se apregoava em mim, procurando abrigo, alento pra da cólera de sua vida emotiva bem volúvel naquela rua. Júlia miava umas frases feitas de gatos e me ganhava os afagos – remédio para sua manha desatada.
Júlia está longe. Perdida na impossibilidade de fazê-la percorrer tanta malha de estrada. Júlia faz falta. Faz mais falta do que sua mente e neurônios de gatos poderiam julgar.

E basta um gatinho qualquer atravessar a rua para eu parar e solicitá-lo estancamento dessas minhas piegas saudades da minha pupila baiana. Naquele chiado de imitar muriçocas e panelas de pressão, negocio com os felinos.

A maioria – arisca – corre de mim, de não haver acordo. Outros, raros, fogem, mas denunciam que estão querendo ficar. Dão um miado de ‘vai embora’, mas olham com certo convite nos olhos grandes. Eu aproximo. Eles correm um pouco mais. Dobro as pernas para ficar na altura do bichano. E ele, miando, vem vindo; receoso e cheio de manhas e gatimanhas... até que eu o alcanço e pronto.

Lá ficamos. No meio da rua. Dois desconhecidos a satisfazer suas necessidades afetivas; a inibir um pouco a carência epidérmica. Dois estranhos – o bichano e eu – a trocar sorrisos e palavrinhas de carinho respeitoso, ele no seu idioma monossilábico e eu na minha língua
portuguesa inatingível a gatos. Um, dois... cinco minutos bastam para que tenhamos aplacadas nossas insuficiências tópicas de afeto, vindas da correria de nossos respectivos mundos.

"Eu preciso ir". "Olhe lá, seu dono pode aparecer..." Digo qualquer desculpa para o felino de olhos cerrados às carícias e, colocando-o delicadamente no chão, despeço-me olhando para trás – desejoso de que o bichano siga-me e dê-me a agradável sensação de ser bem quisto e melhor desejado.

Sem rodeios, os gatos costumam frustrar esses nossos anseios. Não têm a subalternidade irritante dos cachorros. Gatos sacodem os pêlos. Lambem aqui e ali. Olham para a casa mais cômoda e aceleram suas patinhas, de nem se ver, senão o vulto célere delas.

E eu sigo o caminho, todo frustrado diante do desprezo felino. É no que dá misturar sentimentos com gatos de programa! É no que dá!


sábado, junho 02, 2007

Vida no Mar




Para uns um barco
Lento,
Para outros avião
Apressado,
Para os demais comboio
Regular,

Não tem porto ou aeroporto
Nem pára na estação

É qualquer coisa sentida
Por vezes perdida
Bilhete? Só de ida.
Sem retorno
A vida.

Poema de uma poeta chamada Susana, de Lisboa, do blog Pastora de estrelas. Vale a pena conferir.