sábado, março 24, 2007

Quero uma mulher


Escrevi ontem na reuniao, minha mae se encheu de esperanças...


Quero uma mulher que use brincos. Brincos lindos. Brincos brilhantes. De um lado uma pena de qualquer ave amazônica e, ao mesmo tempo, imperial; na outra orelha, um ponto de luz, concorrente de seus olhos – farol guiando meus caminhos por essas terras castas.

Quero uma mulher que use anéis. Anéis simples. Anéis graves. Adornos de uma mão que segura as minhas mãos despidas de aros valiosos, mas envolta nos seus dedos – preciosas jóias da natureza.


Quero uma mulher que use e abuse de maquiagem. Uma mulher que trace negras linhas abaixo e acima da órbita dos olhos, a fim de realçá-los, a fim de cravá-los ainda mais profundamente em minha alma. Uma mulher que enfeite os lábios aperfeiçoando pouco mais essas maçãs, das quais tenho apetite perene e ávido.


Quero uma mulher que me sussurre antigos cantos de ninar; e que estes cantos, aliados aos seus habilidosos carinhos orientais, transformem-se numa bolha de ar que apesar de não ter rumo definido, tem a única certeza de estar sempre trilhando os caminhos das nuvens e pisados atalhos sempre tomados pelos anjos.

Quero uma mulher de cabelos longos. Longos cabelos onde declararei soberania de Estado e autodenominar-me-ei governador supremo deste jardim secreto; jardim onde me perderia e trocaria a coroa pelo exílio na maciez do teu rosto.


Quero uma mulher que chore. Que chore quando tenha vontade, que verta lágrimas graves todas as vezes que assim julgar necessário ou útil. A cada gota que se precipitar, farei o mesmo caminho com as costas de minha mão tentando apagar os sulcos que esse sentimento deixa em seu rosto. A cada gota que se precipitar, depositarei em sua face meus finos ósculos, com o crédulo fim de reparar a dor de teu coração.
Quero uma mulher de olhos frágeis, de olhar enérgico.

Quero uma mulher negra e poderosa. Quero uma mulher clara e luminosa. Uma mulher vestida de essências de todos os elementos. Transparente, simples e vital como a água. Decidida e indomada como o fogo. Segura e fraternal como a terra. E leve – muito leve – tão leve e essencial quanto o ar. Sendo você, amada minha, o quinto elemento; Guardiã de todos os outros elementos; Pedra fundamental do meu delicado mundo.

quarta-feira, março 21, 2007

Seus Gritos


Gosto de entrevistas de emprego. Vou sempre com a certeza de que será a última vez que o pretenso patrão me tratará com dignidade.


As fotos da última postagem são da viagem pra São Paulo, onde visitei o Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz - edifício de 108 anos. Emocionante! Mas é cultura. Não morre ninguém lá dentro. Nem todo mundo se agrada. E quem sou eu para condená-los?! Quem?!

Ah! Quase esqueci. NOTÍCIA A QUEM INTERESSAR POSSA: Continuo servo, mas nem tão ministerial assim...


Poema para sair do tema "Amor". Já to cansado.

Seus Gritos

Aos seus gritos,
Horrendos,
Freqüentes,
Desmedidos,
Dedico os calafrios que sinto ao ouvi-los.

Os seus gritos
Que ditam,
Que mandam,
Que de loucos, enlouquecem,
Que ecoa nos cantos bolorentos da senzala...
Reverto ao canto mais perene do teu ser
O asco piedoso que sinto dessa voz que nunca cala.

segunda-feira, março 19, 2007

Deixa (inédito)




Fiz uma visita relampago a SP, foi bom.. estava precisando respirar outros ares....





Deixe-me entrar no seu mundo.
Deixe-me desembaciar os seus óculos,
Ajeitar a gola da camisa,
Limpar os ombros,
Carregar o peso ou empurrá-los escada a baixo.
Deixe-me pagar o pastel,
Cortar a pizza,
Buscar o guardanapo,
Desgrudar fotos velhas,
Descobrir os segredos que esconde no olhar,
Os sonhos que traz no coração,
As alegrias que guarda na infância.
Deixe-me fechar a pulseira,
Achar a caneta,
Riscar a amarelinha,
Ir ver as horas,
Molhar as plantas,
Esconder seus olhos da miséria,
Tapar seus ouvidos das palavras deseducadas.
Permita-me criar-te,
Recriar-te,
Com a modesta parte
Dessa minha imaginária arte.
Deixe-me tocar suas mãos,
Segurá-las com força,
Soltá-las com graça.
Deixe-me recolher suas tralhas,
Perdoar suas falhas.
Permita-me fazer o que eu toda vida quis,
Só hoje, deixa eu te fazer feliz.




quinta-feira, março 15, 2007

Dia da Poesia 14/03


Mais uma vez atrasado, em homenagem ao dia da poesia, um poema do maior poeta do mundo - Camoes. E outra do melhor cantor/compositor do planeta Terra - Flávio Venturini.




Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim como a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.

****************

Fim de Jogo
F.Venturini - Murilo Antunes

Saia do meu caminho
Chega de confusão
Mesmo se for sozinho
Sigo meu coração

Saio da brincadeira
Entro na contra - mão
Sigo o meu destino e assim
Sigo meu coração

Alguma voz vai dizer
Vou com você
Outra vez
Quero você no meu mundo

O que se há de fazer
Se não ouvir o coração
Ora diz sim, outra não

Rastro de bicicleta
Ronco de caminhão
Vou de qualquer maneira
Sigo meu coração

Sei que chegou a hora
Não tem mais solução
Esse é o fim do jogo
Fim da nossa canção

sábado, março 10, 2007

Aline acabou de passar por mim (inédito)

Minha homenagem atrasada ao
dia internacional das mulheres.
Queria ter escrito sobre minha avó materna,
mas tive uma súbita inspiração para escrever sobre Aline. Coisa estranha, essa.
Querido leitor, conselho meu:
feche todos os parágrafos que abrir nas páginas de sua vida.
Reticências comprometem o andar
de toda a narrativa.


Mulher – Anjo

Aline acabou de passar por mim, na orla da praia do centro. Passou na mulher grávida que protegia do Sol a si e seu novo ser, à sombra de um coqueiro. Passou nas moças ainda meninas que caminham certas num rumo incerto.
Aline acabou de passar por mim. Passou num olhar que me fitou com piedade e amor; passou na voz doce e serena com que fui atendido.
Aline acabou de passar por mim. Passou num casal que se alentavam as mãos enquanto caminhavam, sem pressa... Passou nos cabelos molhados de uma senhora sorridente – tão segura de si quanto duvidosa da sua própria existência. Aline passou num rosto que me olhou com desprezo, cheio de preconceito, explodindo de medo do desconhecido... Medo do desconhecido... Desejo do desconhecido.
Aline acabou de passar por mim. Passou pelos meus olhos – fechando-os – num ofuscante raio de Lua que refletiu sobre as águas claras. Passou num feixe de lembrança montado no primeiro raio de Sol domingueiro que a trouxe de volta para mim; revolvi-a nos meus braços, adormeci-a no meu peito e sussurrei em seus ouvidos poemas cálidos – receitas de um bom sono, segredos de um alegre despertar.
Aline acabou de passar por mim. Estava na afinidade com que olhei e fui olhado por alguém já acompanhado, alguém que tendo chance, teria com zelo e brandura amado. Os olhos de Aline passaram por mim nas luzes coloridas e intensas da praça central. Sua voz passou por mim nas notas soltas do violão de um artista solitário sobre o coreto. Seus gestos passaram por mim nas águas leves que a fonte tentava às nuvens e que o olho-d'água recebia com compreensão e cuidado.
Aline acabou de passar por mim. Passou nos amores proibidos que não puderam nem nascer nesse mundo hipócrita. Passou nas paixões impróprias que todos suprimem, mas que não falecem, apesar do muito querer... Devido o pouco poder... Aline passou numa aceleração atípica em meu peito – vindo da dor intensa e constante de mais uma despedida.
Aline acabou de passar por mim. Passou nos apuros que me lembro com respiração ofegante e nos dias calmos que relembro sorrindo. Aline passou e parece parada a minha frente, mas caminha – lenta e quase imperceptivelmente –, tem cor de prata. É dona da noite. Humilde, esconde-se da fatal luz solar.
Aline passa por mim todos os dias... É quem eu forço sair, empurrando outros amores e outras paixões para dentro do coração. É a razão de eu tentar me matar aos poucos nos venenos sem antídotos que as bocas que beijei traziam. Aline é por quem eu tento morrer aos poucos para mais rápido encontrá-la no céu, ou para, o quanto antes, fazer-lhe companhia no inferno; ou, no mínimo, para, na morte, ter cessado a desventurada dor da solidão.
Aline passa por mim todos os dias... É a noiva que, suando as mãos e coçando o nó da gravata, espero entrar no fim do corredor, no começo do tapete vermelho, no meio de uma primavera qualquer.
Aline passa por mim todos os dias... É o sonho frustrado, a canção sem letra, a história de um só capítulo, a certeza de muitas dúvidas. Aline passa por mim nos restos de bebida no fim do copo, nas palavras que não ouso pronunciar, e nos gestos de que reluto deixar escapar, nas lágrimas que nascem no peito e deságuam aos olhos.
Aline passa por mim todos os dias... É a dulcíssima e súbita coragem que me acomete nos dias nublados. É a fraqueza acrimoniosa e lenta como um drama que tenta explodir meu juízo no Sol inexorável. É quem me incentiva continuar, quem me faz desistir. Aline é a minha causa ingrata do passado; é meu crime perfeito do futuro.
Aline passa por mim todos os dias... Foi quem me ensinou a voar. Foi quem me tirou as asas. Aline é a saudade que afaga minhas tristezas. Aline está nos momentos que roubaram a coroa do tempo e atrevem-se transpassar todas as barreiras – de som, de imagem e de eras.
Aline passa por mim todos os dias...
Ela é a síntese de todas as mulheres, é o projeto de todos os outros anjos.
Uma lembrança...
Uma saudade...
Uma mulher...
Um anjo...
Aline acabou de passar por mim.

sábado, março 03, 2007

Nota de auto-falecimento



Acordo ainda a sonhar, o meu rasto sombrio deleitado na cama, a minha preguiça esticada dormindo. O despertador ecoa, ao fundo, longe longe, como túnel, funil auditivo e como elipse na minha mente calcina o meu sono, ergue-me vagarosamente para a vigília.
O sol já tinha nascido, os passáros despertados há muito, os cães dos vizinhos incomodados com a solidão. Salto para mais um episódio, que raia já bem alto na manhã, uma qualquer manhã indefinida, potencial. Hoje poderei ser tudo, a um pequeno passo e tornarei o meu ou simplesmente o mundo um pouco melhor - desperdicei a oportunidade e acordei.

Não sei se isto é real, se sou real, se o que sinto, é somente percepção interna ou psicológica, somatizada. Quem sou, não sei jamais, nunca soube. Os contornos exteriores, eles mesmos desbotados, incompreensíveis... Seria criança e acordaria sem sentido, não existiria um objetivo, hoje levanto-me para não estar deitado todo o dia ou hoje levanto-me pela alegria de viver, hoje nem sequer desperto, durmo até tarde...

Soluço a chorar, o pesadelo tornou-se demasiado próximo, o meu mundo colapsou, senti meu corpo tremer, senti-me perder, estaria a enloquecer, fobicamente não morrer, repetir-me constantemente o meu comportamento revisitado, o negrume de um acontecimento evitado, herói do momento, choro a quem não consegui salvar, acabei de me matar...

sexta-feira, março 02, 2007

Comunicado Oficial

Queridos Amigos, em anexo um e-mail que recebi nesta manhã. Vocês fazem parte desse sonho. Obrigado.


Câmara Brasileira de Jovens Escritores

COMUNICADO OFICIAL

Fabio,
informamos que o seu poema "Meus rabiscos" foi selecionado e será incluído no 34º volume da Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos, a ser lançado em março de 2007.
Veja a relação dos poetas selecionados em www.camarabrasileira.com/pc34.htm



Para nós, é uma honra e um prazer contar com sua participação neste projeto de incentivo e divulgação dos novos talentos brasileiros.

Cordialmente
Gláucia Helena / Conselho de Administração
Georges Luiz / Editor