Aline acabou de passar por mim (inédito)
Minha homenagem atrasada ao
dia internacional das mulheres.
Queria ter escrito sobre minha avó materna,
mas tive uma súbita inspiração para escrever sobre Aline. Coisa estranha, essa.
Querido leitor, conselho meu:
feche todos os parágrafos que abrir nas páginas de sua vida.
Reticências comprometem o andar
de toda a narrativa.
dia internacional das mulheres.
Queria ter escrito sobre minha avó materna,
mas tive uma súbita inspiração para escrever sobre Aline. Coisa estranha, essa.
Querido leitor, conselho meu:
feche todos os parágrafos que abrir nas páginas de sua vida.
Reticências comprometem o andar
de toda a narrativa.
Mulher – Anjo
Aline acabou de passar por mim, na orla da praia do centro. Passou na mulher grávida que protegia do Sol a si e seu novo ser, à sombra de um coqueiro. Passou nas moças ainda meninas que caminham certas num rumo incerto.
Aline acabou de passar por mim. Passou num olhar que me fitou com piedade e amor; passou na voz doce e serena com que fui atendido.
Aline acabou de passar por mim. Passou num casal que se alentavam as mãos enquanto caminhavam, sem pressa... Passou nos cabelos molhados de uma senhora sorridente – tão segura de si quanto duvidosa da sua própria existência. Aline passou num rosto que me olhou com desprezo, cheio de preconceito, explodindo de medo do desconhecido... Medo do desconhecido... Desejo do desconhecido.
Aline acabou de passar por mim. Passou pelos meus olhos – fechando-os – num ofuscante raio de Lua que refletiu sobre as águas claras. Passou num feixe de lembrança montado no primeiro raio de Sol domingueiro que a trouxe de volta para mim; revolvi-a nos meus braços, adormeci-a no meu peito e sussurrei em seus ouvidos poemas cálidos – receitas de um bom sono, segredos de um alegre despertar.
Aline acabou de passar por mim. Estava na afinidade com que olhei e fui olhado por alguém já acompanhado, alguém que tendo chance, teria com zelo e brandura amado. Os olhos de Aline passaram por mim nas luzes coloridas e intensas da praça central. Sua voz passou por mim nas notas soltas do violão de um artista solitário sobre o coreto. Seus gestos passaram por mim nas águas leves que a fonte tentava às nuvens e que o olho-d'água recebia com compreensão e cuidado.
Aline acabou de passar por mim. Passou nos amores proibidos que não puderam nem nascer nesse mundo hipócrita. Passou nas paixões impróprias que todos suprimem, mas que não falecem, apesar do muito querer... Devido o pouco poder... Aline passou numa aceleração atípica em meu peito – vindo da dor intensa e constante de mais uma despedida.
Aline acabou de passar por mim. Passou nos apuros que me lembro com respiração ofegante e nos dias calmos que relembro sorrindo. Aline passou e parece parada a minha frente, mas caminha – lenta e quase imperceptivelmente –, tem cor de prata. É dona da noite. Humilde, esconde-se da fatal luz solar.
Aline passa por mim todos os dias... É quem eu forço sair, empurrando outros amores e outras paixões para dentro do coração. É a razão de eu tentar me matar aos poucos nos venenos sem antídotos que as bocas que beijei traziam. Aline é por quem eu tento morrer aos poucos para mais rápido encontrá-la no céu, ou para, o quanto antes, fazer-lhe companhia no inferno; ou, no mínimo, para, na morte, ter cessado a desventurada dor da solidão.
Aline passa por mim todos os dias... É a noiva que, suando as mãos e coçando o nó da gravata, espero entrar no fim do corredor, no começo do tapete vermelho, no meio de uma primavera qualquer.
Aline passa por mim todos os dias... É o sonho frustrado, a canção sem letra, a história de um só capítulo, a certeza de muitas dúvidas. Aline passa por mim nos restos de bebida no fim do copo, nas palavras que não ouso pronunciar, e nos gestos de que reluto deixar escapar, nas lágrimas que nascem no peito e deságuam aos olhos.
Aline passa por mim todos os dias... É a dulcíssima e súbita coragem que me acomete nos dias nublados. É a fraqueza acrimoniosa e lenta como um drama que tenta explodir meu juízo no Sol inexorável. É quem me incentiva continuar, quem me faz desistir. Aline é a minha causa ingrata do passado; é meu crime perfeito do futuro.
Aline passa por mim todos os dias... Foi quem me ensinou a voar. Foi quem me tirou as asas. Aline é a saudade que afaga minhas tristezas. Aline está nos momentos que roubaram a coroa do tempo e atrevem-se transpassar todas as barreiras – de som, de imagem e de eras.
Aline passa por mim todos os dias...
Ela é a síntese de todas as mulheres, é o projeto de todos os outros anjos.
Uma lembrança...
Uma saudade...
Uma mulher...
Um anjo...
Aline acabou de passar por mim.
Aline acabou de passar por mim. Passou num olhar que me fitou com piedade e amor; passou na voz doce e serena com que fui atendido.
Aline acabou de passar por mim. Passou num casal que se alentavam as mãos enquanto caminhavam, sem pressa... Passou nos cabelos molhados de uma senhora sorridente – tão segura de si quanto duvidosa da sua própria existência. Aline passou num rosto que me olhou com desprezo, cheio de preconceito, explodindo de medo do desconhecido... Medo do desconhecido... Desejo do desconhecido.
Aline acabou de passar por mim. Passou pelos meus olhos – fechando-os – num ofuscante raio de Lua que refletiu sobre as águas claras. Passou num feixe de lembrança montado no primeiro raio de Sol domingueiro que a trouxe de volta para mim; revolvi-a nos meus braços, adormeci-a no meu peito e sussurrei em seus ouvidos poemas cálidos – receitas de um bom sono, segredos de um alegre despertar.
Aline acabou de passar por mim. Estava na afinidade com que olhei e fui olhado por alguém já acompanhado, alguém que tendo chance, teria com zelo e brandura amado. Os olhos de Aline passaram por mim nas luzes coloridas e intensas da praça central. Sua voz passou por mim nas notas soltas do violão de um artista solitário sobre o coreto. Seus gestos passaram por mim nas águas leves que a fonte tentava às nuvens e que o olho-d'água recebia com compreensão e cuidado.
Aline acabou de passar por mim. Passou nos amores proibidos que não puderam nem nascer nesse mundo hipócrita. Passou nas paixões impróprias que todos suprimem, mas que não falecem, apesar do muito querer... Devido o pouco poder... Aline passou numa aceleração atípica em meu peito – vindo da dor intensa e constante de mais uma despedida.
Aline acabou de passar por mim. Passou nos apuros que me lembro com respiração ofegante e nos dias calmos que relembro sorrindo. Aline passou e parece parada a minha frente, mas caminha – lenta e quase imperceptivelmente –, tem cor de prata. É dona da noite. Humilde, esconde-se da fatal luz solar.
Aline passa por mim todos os dias... É quem eu forço sair, empurrando outros amores e outras paixões para dentro do coração. É a razão de eu tentar me matar aos poucos nos venenos sem antídotos que as bocas que beijei traziam. Aline é por quem eu tento morrer aos poucos para mais rápido encontrá-la no céu, ou para, o quanto antes, fazer-lhe companhia no inferno; ou, no mínimo, para, na morte, ter cessado a desventurada dor da solidão.
Aline passa por mim todos os dias... É a noiva que, suando as mãos e coçando o nó da gravata, espero entrar no fim do corredor, no começo do tapete vermelho, no meio de uma primavera qualquer.
Aline passa por mim todos os dias... É o sonho frustrado, a canção sem letra, a história de um só capítulo, a certeza de muitas dúvidas. Aline passa por mim nos restos de bebida no fim do copo, nas palavras que não ouso pronunciar, e nos gestos de que reluto deixar escapar, nas lágrimas que nascem no peito e deságuam aos olhos.
Aline passa por mim todos os dias... É a dulcíssima e súbita coragem que me acomete nos dias nublados. É a fraqueza acrimoniosa e lenta como um drama que tenta explodir meu juízo no Sol inexorável. É quem me incentiva continuar, quem me faz desistir. Aline é a minha causa ingrata do passado; é meu crime perfeito do futuro.
Aline passa por mim todos os dias... Foi quem me ensinou a voar. Foi quem me tirou as asas. Aline é a saudade que afaga minhas tristezas. Aline está nos momentos que roubaram a coroa do tempo e atrevem-se transpassar todas as barreiras – de som, de imagem e de eras.
Aline passa por mim todos os dias...
Ela é a síntese de todas as mulheres, é o projeto de todos os outros anjos.
Uma lembrança...
Uma saudade...
Uma mulher...
Um anjo...
Aline acabou de passar por mim.
1 Comentários:
Esse aí, não foi um poema, foi O POEMA.
Abraços
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial