sexta-feira, julho 27, 2007

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Sejam bem vindos ao fim do blog Poeta das Nuvens.

Apesar de parecer súbita, essa decisão já havia sido tomada no início do mês. Certas razões e emoções fizeram-me adiar, mas, finalmente, cravo o ponto final e fatal nesse endereço.

Para Joubert, “escrever é estar ao extremo de si mesmo”. Enquanto para Ruth Rocha, publicar para livre acesso os escritos é algo como mostrar-se nu, por todos os ângulos; é, ainda, entregar-se – inerte e indefeso – nos braços do leitor.

Há, portanto, certo desgaste de imagem e cansaço emocional que se acumula até o momento em que se torna impossível continuar sem sofrer. Esse é o meu momento.

Além do que, já há muito que ler e reler por aqui. Os amores que perdi, os amigos que fiz e a família que tenho estão (mesmo que resumidamente) suspensos nas paredes desse labirinto de letras e frases.

Aliás, boa parte desse labirinto está sendo publicada em parceria com a CBJE (Rio de Janeiro). Bibliotecas públicas das cidades que passei, amigos e família começam a receber o livro “Poeta das Nuvens” a partir de 25 de setembro (se YHWH quiser) (as faixas vermelhas não fazem parte do layout da capa, sendo apenas para protegê-la).

Claro que não encerro minha carreira de blogueiro. Vou agora para um Iom Kipur (dia de jejum e expiação) literário para certa purificação que durará dois meses. Logo após o Rosh Hashamá (ano novo judaico (meados de setembro)), recomeço uma antologia num projeto novo (anotem aí): Blog Mar e Sertão. Espero-vos lá.

Agora, depois de dez meses intensos no Poeta das Nuvens, falham-me as palavras para agradecer os acessos e os incentivos que me deram, generosamente. Obrigado por tudo e até breve.

Devo confessar de coração:

Amo-vos, num louco amor sem fim.

Fato, de fato, sem explicação...

Amo-vos assim... porque sim.

Fim do Caminho

Essa é a crônica final do livro. Encerra o site também.

É o fim do caminho...

Antes de se tornar um mega empresário de sucesso, antes de ser um quase Roberto Justus das tesouras, na pequena colina que nasci... Bruno Sarti não tinha muita ocupação e eu, portanto, adiava a salvação do mundo para brincar com ele.

Não éramos meninos travessos. Nossas brincadeiras eram, a meu ver, mais interessantes e inteligentes que a da média. Uma, em especial, voltou à minha mente quando pensava nesse tema "fim do caminho". Escuta aí:

Não sei dizer nossa idade naquela época. Foi tudo antes da Aline, então deve fazer muito tempo. Penso que tínhamos 7 anos, ou menos. Sucedia que imaginávamos uma vida paralela; algo com a mesma temática desse Second Life que faz os cururus acharem 'skin' mais importante que quem a gente gosta. O nosso Second Life era superior (óbvio!) porque dependia apenas de nós mesmos e nossas férteis mentes. O alpendre ou qualquer outro local tornava-se um estúdio para rodarmos a novela da nossa vida paralela.

Nessa 'vida imaginária e sonhada', casávamos com as mais bonitas da cidade e tínhamos os mais belos carros que a indústria lúdica podia fabricar (e nossos pais, coitados, comprar, ou nossas tias-marias nos presentear). Essa 'existência' era até um pouco encenada (outras lembranças me atrapalham, mas parece que sim). Em geral, era mais narrada com poucos adjetivos e verbosidade miúda. Os anos passavam quando anunciávamos: "Aí, eu..."

Como dois librianos, éramos um pouco distantes um do outro; mas essa distância diminuía quando falávamos sobre nossas 'esposas'. "Aí, eu casei.", anunciávamos assim, secamente. "Com quem?", era protocolo o outro perguntar. E a resposta era uma desvelada confissão de culpa (O amor e o sexo nascem nos corações humanos pejados de culpa e embaraço; só depois é que vamos ficamos assim... descarados). "Aí, eu casei com Fulana..." Era difícil, mas sempre resistíamos ao "hummm, to sabendo, hein?!". Há privacidade e espaço nessa amizade que dura até hoje.

- Aí, eu comprei um Gol, dos novo.

- Aí, eu comprei uma casa no prédio. (Com licença, perdoem mais esses parênteses, mas devo explicar: A expressão "no prédio" é um regionalismo colinense, aplica-se somente àquela cidade por se tratar de um município com somente um grande edifício residencial. Portanto, "Bertano mora num prédio em São Paulo" está correto. Enquanto, "Bertano mora num prédio, em Colina" é erro grave, devendo ser substituído por "Bertano mora nO prédio, em Colina". É isso.)

Bem, não pensem, porém, que éramos assim tão auto-congratulantes como parece. Havia momentos tensos e até assaz trágicos:

- Aí, eu sofri um acidente e arrancou uma perna.

- Aí, eu também, mas foi os dois braço.

...

As reticências na linha cima devem-se ao fato de que fiquei estupefato com essas lembranças. Fiquei sem palavras para entender ou explicar essa brutalidade logo na infância e esse estranhíssimo desapego aos membros. Esquisito! Eu culpo a televisão; a Despertai! vai culpar os videogames; e Freud diria que é sexo, tudo é sexo. Ficar adulto é isso: querer achar culpados por tudo o que acontece; se espantar com tudo o que é diferente da nossa espantosa rotina.

Lá no universo infantil tudo pode e nada traz esse espanto, ou pudor. Lembro até que dizíamos isso com certa naturalidade... mascando um pedaço cheio de nervos de boi morto.

Entretanto, a magia não estava em ficar pulando feito Saci ou com os dois braços escondidos na blusa. Repare no que anunciaríamos pouco depois:

- Aí, cresceu outro braço.

Essa era a mágica! Essa é a magia de ser criança. Se o Pica-pau dá uma machadada na cabeça no Zeca Urubu ela afunda no pescoço e reaparece logo depois. Se o Mário Bros cai no lago de fogo e fecha os olhinhos em cruz, a tela pisca e lá está ele de novo com seu uniforme vermelho e sua boina do Village People.

No mundo de uma criança, não existe "fim do caminho". Lá não entra nossas costumeiras frases de adulto: "Estou perdido", ou "Agora, não tem mais jeito..." Que nada! Tudo é possível. Tudo tem solução. Tudo volta ao normal. Tudo sempre foi normal.

Até hoje, quando deito aqui no solar ou lá na areia da praia para ver as nuvens passar, fico tentando lembrar onde foi que esqueci essa capacidade de não duvidar do final feliz. Será que ela foge com medo dos problemas 'maiores'? Ou é nossa visão que vai diminuindo até o ponto crítico de atribuir as soluções ao dinheiro ou a políticos?

Dessa vez eu vou culpar o Bush; a Despertai! vai culpar a internet; e Freud diria que é sexo, tudo é sexo. No entanto, a verdade é que, com o passar do tempo, vamos deixando de lado essa capacidade de sonhar, imaginar, acreditar e enxergar o pote de jujubas no final do arco-íris.

A alegria e a satisfação de estar vivo estão perdidas na nossa própria infância, esperando (confiante!) que a encontremos novamente, para voltarmos a enxergar todo 'fim do caminho' como apenas mais um recomeço. Eis o tal 'segredo da felicidade'.

Águas de Março - É pedra...

Todas as tardes de sábado, os meus dois amigos Brunos e eu saíamos para um city tour pela ‘megalópole’ que é minha terra natal. O roteiro era sempre óbvio: Recinto Nove de Julho, Ponte Alice Dias e uma passada na Sorveteria Dubon pra terminar.

Naquele sábado, excepcionalmente, uma quarta pessoa integrou nossa comitiva bandeirante. Renan era, na época, terrível. Terrível, não; desculpem, exagerei. Renan era um garoto travesso (ou ‘menino malino’, em baianês). A estação de trem estava abandonada e Renan sugeriu que quebrássemos as vidraças todas.

“Quebrar?! Quebrar vidraças?! Quebrar as vidraças pagas pelo erário, numa típica construção ítalo-portuguesa do fim do século XIX?! Quebrar as vidraças de um bem público e que em breve poderá se tornar patrimônio cultural pelo seu valor histórico da áurea era do café no norte paulista?!”, pensei. (É pensei tudo isso mesmo! Raciocínio rápido?! Você acha? Ah, obrigado; é bondade sua.)

Mas continuando, sempre fui o ‘Lineu Silva’ da turma. Apelei para o bom senso, a ordem, os bons costumes, a Torah, Deus, Jesus Cristo... “Isso lá é coisa que se faça?! Tenha dó! Posso escutar o lamento lúgubre e pungente que a o prédio deixa escapar pelos seus caibros e rebocos (Eu já era meio poeta, né?!) Tenha dó!” Não houve meios de convencê-los ou de desconvencê-los a pôr a estação abaixo (que exagero! Seriam uns vidrinhos, apenas).

Os Brunos estavam excitadíssimos com a idéia. A bem verdade, Renan era tudo o que o judaísmo não nos permitia ser. Além do que ele é confiável, seria discreto, nunca que contaria pra alguém. Nunca! Jamais! “Então, vamos.”

Fomos. Entramos na linha do trem e paramos em frente a estação. Como item tradicional das linhas férreas, os trilhos eram sobrepostos em madeiras e pedras. Muitas pedras! Renan começou. Pegou uma pedra e lascou-a na vidraça. Eu, resignado, ainda balbuciava algumas cantigas judaicas que lembrei para pedir perdão ao Supremo Deus. Um dos Brunos, movido pelo dever masculino de não se permitir ser ultrapassado em força, coragem ou tamanho da... bravura, abaixou-se, pegou a pedra e lanço-a numa trajetória elíptica acrescidos dos movimentos em torno do seu próprio corpo – mui semelhantes à rotação da Terra (Ah, quero aproveitar a ocasião para dizer muito obrigado à Dona Emni pelas aulas de Física! Devo tudo o que sei às suas explicações precisas e também a seus olhos de secar pimenta que nos fazia derreter sobre a cadeira da escola “Lamounier de Andrade”).

– Wow! Que isso?!, alguém gritou.

- Deus seja louvado!, emendei.

Corremos! Corremos muito. Pulamos os trilhos e ganhamos a agitação do centro da cidade para despistarmos do nosso delator. Estávamos perdidos! Alguém havia nos visto, anotado nossas placas e agora nos perseguia com ferozes cães antropofágicos! Seríamos expulsos do país (começou a ficar bom!) e ficaríamos longe das nossas mães e seus comprimidos para engordar!

Mas que nada! A misteriosa voz que nos repreendeu não prestou queixa à Suprema Corte Pan-americana dos Direitos das Estações Ferroviárias Abandonadas e Mal-assombradas, como imaginei que faria. Até fiz algumas contas: Renan pegaria mais tempo de prisão enquanto eu ficaria menos porque apenas fui cúmplice e não propriamente criminoso. Quando se tem onze anos qualquer repreensão é associada à polícia, pisa dos pais, cadeira elétrica... Mas evidentemente, não!

Ficamos (e estamos até hoje) impunes. Pelo que me lembro, esta foi a primeira noção mais clara que tive de que havia nascido no Brasil, e o que isso significava.

quarta-feira, julho 25, 2007

Opostos - Poesia



Opostos

Seu cinema é minha biblioteca...

Seu desembaraço é minha timidez...

Sua emoção é minha razão...

Seu riso é meu siso...

Sua resolução é minha confusão...

Seu hard core é minha MPB...

Sua ansiedade é minha calma...

Sua balada é minha TV...

Seu campo é minha praia...

Sua alegria-jovem é minha infância-adulta...

Sua ocupação é meu ócio...

Sua oscilação é minha monotonia...

Seu humor é minha seriedade...

Seu Harry é meu Drummond...

Sua tribo é minha solidão...

Suas palavras é meu silêncio...

Sua metrópole é meu sertão...

Mas abro os olhos de esse meu breve sonhar,

E desando à vida de dor e solidão.

Da lua, observo uma nuvem abraçar e levar

As diferenças – unidas num único coração.


Águas de Março - É pedra


sexta-feira, julho 20, 2007

Dia do Amigo

"Depois de algum tempo você aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias, e o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida."
Shakespeare

Aos amigos de uma semana e aos de 20 anos...
Aos perto do coração mas longe dos olhos...

Feliz Dia do Amigo!




quarta-feira, julho 18, 2007

Pobre de Rico

Fui demitido às seis da manhã de hoje. Mexeram no meu queijo e eu estou aprimorando minha cara palhaço pela frequencia com que a uso. (Aliás, foi difícil achar um nariz que me servisse (tiveram que buscar no estrangeiro), afinal, Deus não poupou nariz ao me criar).


Com mais essa demissão, minhas condições
sócio-econômicas passam a ser algo que só o
fogo da poesia pode descrever.
E ficou assim:



Pobre de Rico

Meu lar
É no meio do mar,
No meio da rua
Feita da luz da lua.

Minha sorte
É fugir da morte -
Entre as alturas da serra
E a baixeza da terra.

Um belo Ton
É meu melhor som.

Qualquer furto
É meu surto.

Nas paixões eu me lanço.
Nos amores sempre danço.

Minha casa é um pedaço do céu -
Qualquer calçada, que beire o léu.

A angústia coletiva é buscar Ter.
Minha paz particular é saber Ser.

Notícias do Livro/Simplesmente



Notícias do livro "Poeta das Nuvens": A editora prometeu resposta pra final de junho e agora prorrogou pra agosto. Estou para mandá-la às favas (antes que ela me mande).

Enquanto seu lobo não vem, vou aqui fazendo meus orçamentos e planos - se eu for editá-lo por conta própria. Eu já havia decidido que faria o lançamento em setembro, mas talvez eu mude pro fim de semana de 12/10. Ainda não sei. Já estou vendendo minhas córneas pela internet para pagar a publicação.

Queria uma festinha com temática nordestina e alguns amigos e familiares para beber, comer, forrozear e ser feliz. Mas o dinheiro não vai dar. Além do que a maioria da família e amigos estão longe e não quero importuná-los com esse meu capricho. Não viriam mesmo.

Se a editora me aceitar, o livro sai só o ano que vem, mas em compensação terá 250 exemplares nas livrarias de SP e RJ, além festinha de divulgação e comissão de R$ 2,00 sobre cada livro (miséria!). Eu tbm ganharia 50 exemplares para distribuir à bibliotecas, parentes e amigos. Se eu for o publisher, vou distribuir o livro gratuitamente entre amigos e parentes. Pensei em vendê-los. Mas morreria de depressão de ver que ninguém quereria comprar.

Enfim, o livro está todo diagramado, capa e contra capa pronta. Só falta o prefácio que um amigo de Colina já recusou a autoria (!). Agora to esperando a resposta de César. Se ele não tiver inspirado tbm vou escrever eu mesmo e assinar com o nome do meu gato amarelo "Joaquim Maria Pirandello". Ah, tem uma poetisa cearense (Inah Cabral) que já sinalizou que faria meu prefácio. Mas como achá-la, sem gastar com interurbanos?!

Nesse ou noutro ano... pela editora ou por mim mesmo... com um prefácio humano ou felino... o livro vai sair. "O que se chamava homem, também se chamava sonho - e sonhos não envelhecem".

********

O poema abaixo tbm foi escrito depois da minha demissão. Versos pejados de tristeza e rancor, que já estão passando. A minha centopéia Maria Dina e meu cascão Venâncio estão me ajudando. Tbm tem um anjo me ajudando. Mas devo ser sempre discreto. Enfim, o poema da demissão:

****
Simplesmente

Eu me perdi.
Não sei de quem.
Não sei de onde.
Me perdi, simplesmente.
Eu sumi.
Não sei por que.
Não sei pra quem.
Sumi, simplesmente.

Eu me apaxonei.
Mais uma vez, era a última.
A última foi mais uma vez.
Me apaixonei, simplesmente.

Eu me escondi.
Ela esconde meus defeitos.
Meus defeitos a escondem.
Me escondi, simplesmente.

Eu errei.
Errei quando quis acertar.
Acertei quando não queria nada.
Errei, simplesmente.
Eu viajei.
Com os olhos fechados, vi todo o mundo.
O mundo todo me viu, quando fechei os olhos.
Viajei, simplesmente.

Eu sofri.
Do sofrimento lapidei umas lições.
Das lições gotejaram mais sofrimento.
Sofri, simplesmente.

Eu amei.
De tudo, um pouco.
Do nada, um muito.
Amei, simplesmente.

No amor eu me perco e sumo.
No amor eu me escondo e erro.
No amor eu viajo e sofro.
Eu amo, simplesmente.

Luto da Cráudia

Poeta das Nuvens News recebeu um comunicado de que a apresentadora Cráudia Mirabola é uma das sobreviventes da tragédia com o Airbus da TAM. Veja, na íntegra, a nota oficial divulgada pela apresentadora:

São Paulo, 18 de julho de 2007.

Às 18:45, eu, Cráudia Mirabola, estava na minha casa na Vila Mariana e, portanto, sou uma sobrevivente da tragédia acontecida há pouco. Entretanto, dispo-me do personagem do Pograma Dá, Cráudia, para vir, eu mesma, expor minha densa consternação diante do lamentável fato.

Não são ‘corpos’ como estão nos vendendo essas emissoras de TV com seus helicópteros posicionados como aves necrófagas. Não! São 200 (ou mais) sonhos. Mais de 200 projetos. Mais de 200 idéias para salvar o mundo. Duzentos amores desfeitos. Duzentos amigos perdidos. Duzentas mães que não sabem mais o motivo de ainda estarem neste planeta.

Aproveito esse espaço, também, para atacar a supina ignorância da oposição política deste país ao tentar encontrar, precocemente, os culpados. Sobretudo condeno a ignara senhora deputada federal pelo PSOL gaúcho, que culpou o Ministério da Defesa ainda nas primeiras horas subseqüentes ao acidente. Os culpados, se houverem e sejam qual forem, serão identificados no devido momento. Por ora, é sinal de sabedoria e urbanidade recolhermo-nos ao luto inexpugnável que cada brasileiro traz no imo, desde a noite de ontem.

Minhas mais profundas e sentidas condolências aos familiares dos mortos e desejo de que tenham acrescidas as vossas paz e espiritualidade.

Com amor,

Cráudia Mirabola