sábado, março 03, 2007

Nota de auto-falecimento



Acordo ainda a sonhar, o meu rasto sombrio deleitado na cama, a minha preguiça esticada dormindo. O despertador ecoa, ao fundo, longe longe, como túnel, funil auditivo e como elipse na minha mente calcina o meu sono, ergue-me vagarosamente para a vigília.
O sol já tinha nascido, os passáros despertados há muito, os cães dos vizinhos incomodados com a solidão. Salto para mais um episódio, que raia já bem alto na manhã, uma qualquer manhã indefinida, potencial. Hoje poderei ser tudo, a um pequeno passo e tornarei o meu ou simplesmente o mundo um pouco melhor - desperdicei a oportunidade e acordei.

Não sei se isto é real, se sou real, se o que sinto, é somente percepção interna ou psicológica, somatizada. Quem sou, não sei jamais, nunca soube. Os contornos exteriores, eles mesmos desbotados, incompreensíveis... Seria criança e acordaria sem sentido, não existiria um objetivo, hoje levanto-me para não estar deitado todo o dia ou hoje levanto-me pela alegria de viver, hoje nem sequer desperto, durmo até tarde...

Soluço a chorar, o pesadelo tornou-se demasiado próximo, o meu mundo colapsou, senti meu corpo tremer, senti-me perder, estaria a enloquecer, fobicamente não morrer, repetir-me constantemente o meu comportamento revisitado, o negrume de um acontecimento evitado, herói do momento, choro a quem não consegui salvar, acabei de me matar...

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