segunda-feira, junho 18, 2007

Gato de Programa




Oi, tudo certo? Quanto tempo, hein?! Olha eu aí do lado numa foto mais recente. Esse meu novo visual é pela peça que estou estreando em... rsrs. brincadeira... é falta de auto-cuidado mesmo;
Lê aí um ensaio:
Gato de Programa

Gosto de gatos. Sobretudo, os felinos. Tempos já passaram desde que estou privado da companhia mimosa da doce Júlia e sua filhinha – duas gatinhas mimosas e de alto garbo. Saudoso o tempo em que Júlia se apregoava em mim, procurando abrigo, alento pra da cólera de sua vida emotiva bem volúvel naquela rua. Júlia miava umas frases feitas de gatos e me ganhava os afagos – remédio para sua manha desatada.
Júlia está longe. Perdida na impossibilidade de fazê-la percorrer tanta malha de estrada. Júlia faz falta. Faz mais falta do que sua mente e neurônios de gatos poderiam julgar.

E basta um gatinho qualquer atravessar a rua para eu parar e solicitá-lo estancamento dessas minhas piegas saudades da minha pupila baiana. Naquele chiado de imitar muriçocas e panelas de pressão, negocio com os felinos.

A maioria – arisca – corre de mim, de não haver acordo. Outros, raros, fogem, mas denunciam que estão querendo ficar. Dão um miado de ‘vai embora’, mas olham com certo convite nos olhos grandes. Eu aproximo. Eles correm um pouco mais. Dobro as pernas para ficar na altura do bichano. E ele, miando, vem vindo; receoso e cheio de manhas e gatimanhas... até que eu o alcanço e pronto.

Lá ficamos. No meio da rua. Dois desconhecidos a satisfazer suas necessidades afetivas; a inibir um pouco a carência epidérmica. Dois estranhos – o bichano e eu – a trocar sorrisos e palavrinhas de carinho respeitoso, ele no seu idioma monossilábico e eu na minha língua
portuguesa inatingível a gatos. Um, dois... cinco minutos bastam para que tenhamos aplacadas nossas insuficiências tópicas de afeto, vindas da correria de nossos respectivos mundos.

"Eu preciso ir". "Olhe lá, seu dono pode aparecer..." Digo qualquer desculpa para o felino de olhos cerrados às carícias e, colocando-o delicadamente no chão, despeço-me olhando para trás – desejoso de que o bichano siga-me e dê-me a agradável sensação de ser bem quisto e melhor desejado.

Sem rodeios, os gatos costumam frustrar esses nossos anseios. Não têm a subalternidade irritante dos cachorros. Gatos sacodem os pêlos. Lambem aqui e ali. Olham para a casa mais cômoda e aceleram suas patinhas, de nem se ver, senão o vulto célere delas.

E eu sigo o caminho, todo frustrado diante do desprezo felino. É no que dá misturar sentimentos com gatos de programa! É no que dá!


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