sábado, maio 12, 2007

A vida é uma novela


Acordei as sete pra uma entrevista de emprego pra uma loja que vai abrir aqui. Nem sei qual. Sei que tinha umas duas mil pessoas, parecia fila do ‘Ídolos’. Tanta gente desempregada. Um rindo da desgraça do outro, entre os dentes. Se eu fosse o único ocioso do mundo, tudo bem. Mas tem muita gente legal tirando rapadura de tijolo pra sobreviver. Isso me deprime pra caramba. Por que a vida não é como uma novela? Onde apesar dos pobres serem pobres, pelo menos trabalham na Globo e aparecem no vídeo show de vez em quando? Falando em novela...

Aí descobriram no meu caderno de levar na reunião que eu tenho (tinha) uma lista de coisas pra fazer quando a Aline voltasse.

Aí riram e ri tanto que até chorei. Ri, ri e de repente uma lágrima cai. Que isso? Putz, to chorando. Droga.

Aí viram que uma das coisas era assistir um monte de filmes, ir a tal e tal lugar.

Aí eu tive que explicar que Aline é minha única referência de uma relação romântica com futuro e que "Aline voltar" deve ser entendido como eu gostar de alguém de novo (e que goste de mim, Céus!)

Aí eu pensei bem e vi que eu não sou nada (imperfeitos e pequeninos, como diz o outro) e que minha vida anda uma canoa furada. Não dá pra ‘relacionar’ assim.

Aí eu expliquei que era canoa furada porque eu tinha abandonado outro curso, outro emprego e estava à mercê da passagem dos dias e triste com a morte dos cachorros.

Aí eu expliquei que mataram os cachorros da rua, e que isso me afetou profundamente.

Aí me disseram que era o desemprego - a gente fica mais sensível às trivialidades da vida. Pô! "Trivialidade"? "Aí, tá vendo?!".

Aí eu parei no camaroeiro (praia calma com dezenas de barquinhos de pescadores na água) e tive uma súbita sensação de que a vida era uma grande novela.

Aí eu pensei isso porque o cenário era lindo; eu era mocinho bonzinho (!); e que pelo que tá meu ano chinês só pode ser os últimos capítulos, onde tudo dá errado.

Aí eu imaginei que era isso mesmo e que, enfim, na sexta feira eu iria tropeçar numa mala cheia de dinheiro pra pagar minha faculdade, casa, carro e cocas-cola mil.

Aí eu concluí que na sexta feira também eu iria ver Aline me procurando no Fantástico.

Aí me falaram que o Fantástico é no domingo.

Aí eu disse que novela é novela, inferno!

Aí eu disse que reuniria todo o elenco pro nosso casamento e acabaria com ela grávida.

Aí me lembraram que eu sou estéril.

Aí eu falei que a novela era do Manoel Carlos, e a Regina Duarte era médica e chamava-se Helena, DOutorrrrra em infertilidade, apesar de morar no Leblon e ser inimiga da Martha.

Aí me perguntaram o que iria acontecer aos vilões.

Aí eu olhei pros barquinhos no mar e pro vento frio que chegava à praia e tive uma alegria gratuita de lembrar que minha vida não tinha vilões humanos e que, se os tem, não os encaro assim.

Aí me falaram que se não tinha vilão a minha vida não era novela, então.

Aí eu disse que a partir de agora estava mais voltado pro desenvolvimento espiritual e que essas coisas de amor pra mim é pior do que Cachaça de Cobra.

Aí minha mãe falou que falar "Aí" é ridículo. "Deve-se dizer "então"".

Então vamos pros comercias.

"Sei que chegou a hora
Não tem mais solução
Esse é o fim do jogo
Fim da nossa canção"






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