quinta-feira, dezembro 14, 2006

HUMOR> NARRATIVA> NA BOCA DO POVO

Mais um ensaio literário, categoria narrativa. Eu não gostei muito, mas espero que gostem. Beijo a todos. Ah, esse quadro é de Guido Viaro, Fofoqueiras (1943).



Na Boca do Povo

Mas não é que o Alemão caiu na boca povo?!

Renata chegou para almoçar com Josana. Josana, coitada, fez uma plástica no ano passado, que acabou afetando sua audição. “O que os homens olham não são os ouvidos, o que eles olham é...”, costumava justificar. Renata chegou e achou o restaurante cheio. Josana estava sentada bem no meio do recinto.
- Jô, amiga! Eu preciso te contar umas coisas que vão fazer você pirar.
- O que é isso, Rê? Respeite-me! – contestou a companheira.
- Menina... – gostava de fazer suspense – Eu acabei de ver o Alemão com uma mulher dentro do carro!
Josana havia virado seu ouvido direito em direção de Renata, era o ouvido com que melhor ouvia.
- Mentira! O Alemão, que é casado com a Priscilinha?
- O próprio! – confirmou Renata.
- Meniiiiiina! – com os olhos parados e boca aberta. Eu não acredito... Cachorro! Eu vou ligar pra Juliana agora, meu amor. Ela precisa saber dessa história do cunhado dela... – procurando o celular na bolsa, revoltadíssima. Vai me contando, vai me contando...
- Eu não vi direito, mas a mulher estava de vestido...
- Alô? Jú? Minha amiga! Se estiver em pé, senta. Seeeeeeenta porque o que eu vou te contar... Olha, o Alemão, seu cunhado, acabou de ser visto com uma amante... – tapando o fone e virando-se pra Renata à sua frente – Ela está AR – RA- SA- DA! Conta mais...
- Fala pra ela – começou Renata – que ele estava lá em frente àquele quartel, na esquina da Raimundo.
- Jesus!!! Jú, me escuta! Ele estava em frente o motel “Prazeres do mundo”! Cada nome que dão pra essas coisas, não?
Renata ria e tentava consertar.
- Como era a moça?!... Como era a moça? – repassou a pergunta da Juliana.
- Ah! Eu vi que estava de vestido longo e preto.
- Hmm, Jú, Vestia um vestido curto, preto e vermelho.
Já não era a surdez, era pura maldade da parte de Josana.
- Mas eu tinha ouvido falar que ele era crente... – pensou alto Renata.
- E ó! Rê está dizendo que o negócio tava quente! É, meu bem! Esse povo, hoje em dia, não perdoa. Uma hora dessas, né?!
- Não! – depois de rir, Renata tentou consertar o engano – Eu disse que eu achava que o Alemão era puro, casto.
- Que foi?... Ah! Então, Jú... É isso mesmo! Num puro amasso!... Ahã... Ahã.... Espera aí... Rê, ela quer saber se mais alguém viu.
- Eu acho que sim. Estava cheio de gente na rua.
- Santo Pai das Alturas! Juliana, minha amiga, escuta: a Rê tem certeza que todo viu porque estava muito indecente e a mulher estava toda nua! Você acredita? Aquele salafrário, com aquela carinha de Santo?! Hã!!! Eu conheço esse tipo. – continuou Josana, colocando as ênfases nos lugares mais apropriados. – O quê? Ah... Rê, ela quer saber se você viu a cara da sirigaita.
- Não. – disse, decepcionada – A mulher estava com um... lenção na cabeça.
- Ah, tá... Jú? Ela viu; disse que é um canhão, uma tristeza! Pois é, esses homens de hoje... Meu falecido, pelo menos, não era disso... Mas, (não é, Rê?) eu sempre achei o Alemão tão bonzinho!
- Mas quem mandou ser incauto?! – retrucou Renata.
- É? Olha só, Jú! Rê disse agora, que estavam com um maior som alto.
- Não foi bem assim, Jô... Pergunta se ela vai contar pra irmã!
- Hã? Ah, tá! Jú, a Renatinha quer saber se você já provou do Don Juan.
- Que isso, Jô! – Renata indignou-se – Quero saber se ela vai contar pra Priscila!
- Ah, claro! Um calhorda dessa categoria merece um castigo! – adiantou a viúva.
- Você sabia que ele é bombeiro? – pergunto a amiga que já almoçava.
- Oi? Ah, sabia! Claro! Isso mesmo que ele é... É um bis... Que foi, Jú? Ah, está bem. Eu também vou desligar; eu preciso almoçar porque eu estou passada com essa história... Tá bom... Ahã... Claro que eu vou com você! Isso... Tchau, amiga...
- Não foi exatamente assim como você falou Jô... – tentou Renata.
- Foi pior?! Por isso que eu falo, Rê, homem não presta. O meu prestava... Um verdadeiro tesouro! Tanto que até enterrei ele. – concluiu a viúva.
As duas riram e voltaram para o almoço.
No mesmo dia, Priscila foi para a casa da mãe. O Alemão ficou sozinho e, numa mesa de bar, jurou por Deus e por si mesmo que nunca mais daria a carona à nenhuma das freiras do convento da Rua São Raimundo.

1 Comentários:

Blogger Unknown disse...

KKKKKKKKKKK!

Muito bom!
Parabéns!!!

KKKKKKKKKK!

segunda-feira, junho 17, 2013 9:14:00 AM  

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial