sábado, dezembro 09, 2006

DOIS DE JULHO

Escrevi esse poema já faz um tempo para Ariaidny, aqui de Caetité - BA, uma grande amiga que eu tenho muita consideração e respeito. Por hoje, só.


DOIS DE JULHO

Procurarei pela escuridão da noite;
Procurarei na densidade dos mares;
Procurarei pelas trevas intocáveis;
Procurarei nos rumores das vozes humildes;
Procurarei nos olhares das cabeças baixas;
Procurarei pelas ruas estreitas e campos abertos;
Procurarei nos sonhos que havia esquecido;
Procurarei nas forças que julgava perdidas;
Procurarei no Sol que acalenta queimando;
Procurarei na Lua que fascina e inspira;
Procurarei nos cantos da esfera azul;
Procurarei atrás de cada porta que atravessar;
Procurarei nos templos e catedrais mais laboriosas;
Procurarei nos termos de compromisso assinado com o tempo;
Procurarei nos perfumes que alguns seres exalam e nos que outros seres criaram;
Procurarei nos livros mais empoeirados, nas bulas mais breves e nos códigos mais indecifráveis;
Procurarei nas dores que senti e não esqueci;
Procurarei nos cômodos sob a luz de uma lamparina quase apagando;
Procurarei no frescor do ar livre e no mal-estar da sufocação;
Procurarei na saudade de quem ainda nem chegou;
Procurarei na facilidade com que digo ‘sim’ e na minha vontade de dizer ‘não’;
Procurarei nos tons de azul que o céu costumava apresentar;
Procurarei na insânia dos risos e no vício do mal-humor;
Procurarei nos ventos que chegam sem dizer por que e que vão sem explicar para onde;
Procurarei na doçura dos animais e na rudeza dos humanos;
Procurarei na injustiça dos vivos e na implacável imparcialidade da morte;
Procurarei pelos corpos que passam por mim unidos pelas mãos, braços, coração e alma;
Procurarei nos artigos e incisos da Constituição da República;
Procurarei nas páginas mais brancas do Alcorão e da Sagrada Escritura;
Procurarei em todos os idiomas;
Procurarei nos meus pecados e nas minhas virtudes;
Procurarei nas minhas intenções e nas pretensões;
Procurarei em vida e in memorian;
Procurarei nas mentiras com as quais vitimei e nas verdades com as quais fui vitimado;
Procurarei no universo infinito e no cosmos indefinido;
Procurarei nos ditos populares;
Procurarei nas cartilhas para leitores mais seletos;
Procurarei nas minhas dúvidas mais simples e nas minhas certezas mais complexas;
Procurarei nas lembranças de ter suas mãos – fortalezas frágeis – agarradas às minhas;
Procurarei em cada segundo que vivi e em cada ano que ainda não chegou;
Procurarei no fogo que tudo destrói e no amor que tudo constrói;
Procurarei no sangue que derramarei;
Procurarei nas lágrimas que agora se precipitam dos meus olhos;
Procurarei na minha tolice;
Procurarei na minha madureza;
Procurarei na minha garra, na minha convicção, na brigas que ganhei;
Procurarei em tudo o que já escrevi;
Procurarei em tudo o que já escreveram;
Procurarei na sabedoria, na justiça e no poder do amor;
Por mais longe que esteja, por mais inacessível que seja e por mais ligeiro que o tempo insista em passar...
Encontrarei e porei em suas mãos presentes vindos de um ocidente oriente: um futuro e um amor.
Sobre o futuro, sendo este fugaz, pouco direi, apenas afrontarei.
Sobre o amor, sendo este real, garantirei: infinito por ser infalível; infalível por ser infinito.

Fábio Henrique

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

alguns expressam sentimentos com ações, outros com palavras. Outros até mesmo (I)simplesmente não se expressam. A diferença do segundo para os demais está no fato da grande habilidade com as palavras e sentimentos mais arraigados para se transmitir de maneira agradável a quem os lê. Parabéns por seu talento, meu amigo

terça-feira, dezembro 12, 2006 4:37:00 PM  
Blogger Fabio Hnrq disse...

Obrigado pelo carinho, brother. Mas o talento aqui eh vc. rs

terça-feira, dezembro 12, 2006 10:35:00 PM  

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