sexta-feira, dezembro 15, 2006




Será que vocês, leitores queridos, não se cansam desse tema (amor)? Eu tenho esse medo. Por isso vou mesclando. Amanhã um texto inédito sobre meus 10 dias de Casa Bella Requinte. Hoje um poeminha pra aquecer o coração.


Não tive tempo


Não tive tempo de dizer que te amo mais do que churros com recheio de brigadeiro.

Não tive tempo para te dizer que, se pudesse, transferiria suas dores para o meu corpo a fim de livrar-te da aflição. Não tive tempo para te mandar mais músicas;

Não tive tempo para te dizer que sou calado, não por natureza, mas porque estando ao seu lado todas as palavras se escondem e a grandeza do momento faz-me esquecer o símbolo e até o som que as letras têm.

Não tive tempo de dizer que estava disposto a mudar, se preciso de cidade, de país, de planeta.

Não tive tempo para dizer que, precisando, mudaria meu jeito, meu corpo, meu rosto, meu gosto, meu desgosto, meu espírito.

Não tive tempo para dizer que a vida é tão doce estando ao seu lado que julgava não ser real – e era?

Não tive tempo para dizer que encontrei a chave da felicidade escondida numa das curvas do teu sorriso.
Não tive tempo para dizer que minha coragem, até então sempre falida, estava escondida no canto dos seus olhos – olhando para mim.

Não tive tempo para dizer que o mundo as vezes parava de rodar, que o Sol, por algum tempo, parava de brilhar, que a Lua por uns minutos, perdia a claridade e que o ar, só por alguns momentos, era irrespirável; até que você e sua alegria chegava – e o mundo tornava a girar, o Sol voltava a brilhar, a Lua continuava a clarear e o ar – seu ar – entrava saciando meus sôfregos pulmões.

Não tive tempo para te dizer que eu, apesar de feio e pobre, tratar-lhe-ia como se trata a mais nobre das rainhas, a mais destacada de todas as princesas. A cada manhã, solto pela nossa casa, rosas de uma primavera inesquecível. A cada entardecer, folhas de um outono saudoso. E a cada noite, o aconchego das colchas do inverno. A rainha de um reino distante. A princesa de um império abastado. Rainha dos meus sonhos. Princesa do meu coração.
Não tive tempo para dizer que as paisagens – secas e enfadonhas – tornavam-se férteis e originais quando o louvor do nosso amor era espalhado sobre elas.

Não tive tempo para dizer que com o tempo acabaria te entendendo, conhecendo-te mais e mais e, exatamente por isso, amando-te hoje mais do ontem, amanhã mais do que hoje – sempre mais do que nunca.

Não tive tempo para dizer que a complicação do mundo recuava na mesma simplicidade do seu jeito. Não tive tempo para te dizer que sempre esteve ainda mais linda cada vez que nos deparávamos.

Não tive tempo para dizer que sempre me esforcei ao máximo para melhorar meu aspecto aos nossos encontros e que, se não estive ao seu agrado, tentaria melhorar mais.

Não tive tempo para dizer que meu coração era pequeno, frágil e inexperiente e por esse pretexto depositei-lho em suas mãos, julgando que saberias lidar com ele.

Não tive tempo para dizer que meu maior desejo era lutar contra tudo e contra todos e que, mesmo perdendo, seria bem-aventurada minha campanha contra o mundo – se apenas estivesse rindo comigo em alguma esquina da cidade esperando a chuva passar.


Não tive tempo para dizer que todos os meus sonhos foram feitos novos e que nos mais intrínsecos apenas adicionei um parágrafo – nós – e um inciso – você. Não tive tempo para lhe dizer que, como um anjo, você protegeu-me do frio na alma, da morte no peito, do infame fantasma da solidão.

Não tive tempo para dizer que as sombras eram dissipadas; que o passado era ocultado; que o futuro era esclarecido e que o presente... o presente era indigno de minha insignificância. Não tive tempo para dizer que as estrelas caíam sobre a minha cabeça cada vez que chegava a hora de despedirmos e que a esperança de ver-te novamente, em breve, era o que as ajudava a voltar para o céu.

Não tive tempo para dizer que escrevia um diário; um registro sistemático dos nossos momentos, da nossa pugna contra o preconceito, a ignorância, o desequilíbrio e contra o tempo. Um assentamento, em poucas palavras, de minutos tão grandiosos como todo um idioma não pode ser. Um diário, que como esse texto, como tudo na vida, como até nosso afeto, termina seco e melancólico, com a pequenez e a mediocridade desse um ponto final.

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Seriam minhas estas palavras (se já não fossem suas, é óbvio),quando o meu então amor foi-se embora tão indiferente à minha existência, esse amor tinha um nome, e esse nome era o seu...Amava-te sem nem mesmo conhecer-te. Imaginava sua vida e personalidade, e o que mais me assombra hoje, é constatar que eras realmente tudo o que eu imaginava...um poeta, com incrível sensibilidade artística...enfim, isso HOJE nao faz diferença pra mim, mas saiba que por acaso ganhou uma fã (anonima, é claro), pois amei todos seus poemas e vou continuar a visitá-lo aqui. Um abraço de quem te amou platonicamente dos 13 aos 17 anos de idade. RSRS (bastante tempo para um amor não correspondido...)

sábado, maio 24, 2008 4:02:00 PM  
Anonymous Anônima disse...

E hoje...isso faz diferença pra mim...

Um abraço de quem te ama dos 13 aos 21 anos.

=)

domingo, maio 24, 2009 5:51:00 PM  

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