Eu Odeio Criança
que compartilha comigo desses conceitos polêmicos,
mas incontestáveis.
O mundo está como está por causa dos programas infantis. Os desenhos antiqüíssimos, daqueles que o Pica-Pau tinha as pernas amarelas e cheia de dobras, são escolas do crime e da pancadaria. O Leôncio, leão-marinho (com pernas (!)), e o Zeca-Urubu são esfrangalhados pelo pássaro demoníaco com explosões, machados, motos-serra e afins. Devia ser o programa preferido de Bush Jr.
Com o passar do tempo, surgiram apresentadoras de programas infantis. Tudo gente do bem. Ex-atrizes pornô, com 1 milhão de Playboys vendidas no currículo; ficam com figurinos sumários fazendo micagens para as crianças, de todas as idades.
O único mérito do que se passa hoje na TV é terem conseguido a proeza imensurável de superar, em baixeza, os programazinhos do meu tempo. Num dos canais, toda manhã, um casal de crianças ficam aterrorizando o mundo com suas piadinhas e brincadeiras de ameba em coma. O menino é japonês de segunda a quarta, no resto da semana ele é descendente afro ou indígena, impossível discernir. É feio, contrariando a raça – seja qual for. A menina veste-se como adulta e tem uma voz quebra-cristal de fazer surdo pedir exílio no Cadeião de Ramos. Ambos pulam, gritam e se divertem, a valer. Alô, Ministro do Trabalho! Trabalho infantil não era crime! Essa história de apresentadores mirins não acaba bem! Escutem o que eu to falando! Britney e Justin estão aí para comprovar.
Ah! Que saudade que tenho dos meus tempos de criança telespectadora. Fui viciado em TV Cultura. Os programas eram bons. Exceto as vinhetas de abertura, cheias de mensagens subliminares. A do Castelo Rá-tim-bum mesmo só faltava aparecer a Gretchen com a complexa coreografia do “Conga, la Conga”: “BUM-BUM BUM-BUM, Castelo Rá-tim-bum...”. Que horror!
Outro ótimo, mas que pecava na abertura era o ‘Co-co-ri-có’. Diz o jingle: “O Júlio na gaita e a bicharada no co-co-coral...” O que é isso?! Júlio seria aliciador de uma boate GLBT com direito a couvert artístico das bichas? Valeu a intenção, mas...
Outro matador, mesmo que culposo, da inocência infantil atualmente são os brinquedos. Brinquedos de meninos são monstros ou aqueles carrinhos de velocidade inalcançável que fazem acrobacias de qualquer natureza. Não importa quanto tempo passe, quando o menino pegar o carro do pai irá atropelar, ultrapassar, tirar rachar... Tudo para satisfazer sua ganância por velocidade plantada nos verdes anos.
Já as meninas têm as bonecas. De pano? Não. A indústria não incentiva a inclusão de portadores de necessidades especiais. Em vez disso, as bonecas mudinhas já não servem mais. Precisam ser essas que falam coisas terríveis. Exemplo: “Me dá um abraço!?” ou “Quero mamar!”, ainda “Vamos dormir?”. Perceberam? Está tudo muito claro, senhores. Crime de incitação à concupiscência, aí mesmo na barriga da boneca da sua filha.
A Barbie então, nem se fala. Criminosa de deixar Carmem Sandiego no chinelo. Nunca vi uma Barbie frentista; “Barbie empregada doméstica” existe? Não! Não existe! Sabe por quê? Porque a missão diabólica daquela loira é corromper as crianças com os maliciosos ideais americanos de consumismo e materialismo a qualquer custo. Barbie tem um trailer. Barbie tem uma BMW Z3. Barbie tem um iate. E eu nunca a vi trabalhar honestamente. É caucasiana; crime bárbaro de preconceito racial. Achavam pouco e criaram sabe quem? Isso mesmo, o Ken. Ken turve na cabeça das meninas a realidade dos ideais másculos e latinos. Ken não assiste futebol. Ken não é corintiano. Ken não sabe dirigir, fica sempre do lado do carona nos carros rosa-choque da Rainha do Capitalismo. Ken usa blusas de frio enroladas no pescoço e bermuda cáqui. Ken deveria ser o papai da história. No entanto, acaba sendo um boa-vida como a ‘esposa’, totalmente afeminado e virtualmente um denegridor de nós, homens.
O mundo corre sérios perigos. O aquecimento global está aí (como esteve a gripe-aviária, o ano 2000 e o chupa-cabra, enfim só pra vender jornal) e as crianças de hoje chegarão em 2050 apertando a fivela dos cintos e gritando “hora de mofar” pra enfrentar a corrupção e a fome na África. Isso não pode continuar.
A culpa é, todavia, nossa. Somos nós, adultos, quem estamos construindo pouco a pouco monstros execráveis (como aquela menininha do Programa Raul Gil) em formatos pockets. E poderemos reverter a situação, sem a mesma violência com a qual seremos todos exterminados por eles daqui trinta anos. Desligue a TV. Mande a Barbie ver o que bom numas férias infinitas na Coréia do Norte. Dê um LP, sim Long Play, de James Brow (com 'Sexy Machine') para seus filhos. Incentive a leitura de clássicos da língua portuguesa. E se não fizer, vou ligar no programa para crianças daquela loira da Rede Vida, e na hora do artesanato!!!