quarta-feira, janeiro 24, 2007

Carta de Despedida (inédito)





Voltei! Por hoje, trechos de uma carta. Até mais.


**O amor também é separação**
(Fábio Henrique)

Não é só beijos, abraços, sussurros e olhares apaixonados. Amar também é se separar.

As lágrimas brotam no canto dos olhos ao ouvir a música, ao lembrar das tardes de chuva juntos e ao sentir aquele cheiro do ser amado
surgir numa esquina qualquer.

E a vida se torna cinza, o Sol nasce preguiçoso no leste e se põe emburrado no oeste. E a lua brilha sobre nós como uma mãe querendo consolar, enxugar as lágrimas do filho amado, do filho amante.

E o tempo não passa leve... passa roçando nos nossos corações, machucando nossas ilusões, arrancando pedaços dos nossos sonhos. O amor também é separação.

Na separação é preciso um novo planejamento, uma reestruturação das horas vagas, uma reorganização dos feriados, um novo projeto para as palavras de amor e gestos de mimo e nino. O amor também é separação.

Os desejos saem do corpo sem rumo certo e os suspiros de amor são exalados sem norte. O amor só se prova amor na dor da separação. Dias escuros. Noites claras. Separação. Amor também é separação.

Iremos mesmo nos separar. Não nos veremos mais. A distância dará o primeiro golpe e o tempo desferirá o ferimento final. A dor encheu meu dia e recheou meu sonho.

Pensei em planos malignos para a despedida. Sei que me ama - eu te amo também - e por isso tentei encontrar na brisa leve e fresca desta
madrugada uma solução que não lhe traga sofrimento.

Queria te decepcionar, ferir-te com alguma palavra para que todo esse amor que desabrocha de seus olhos se transformasse num ódio mortal e imortal e me esquecesse de vez.

Poderia mentir também. Dizer que ficaria ao seu lado para sempre e, de um dia para o outro, sumir, desaparecer sem deixar vestígios. Mas acho que isso te faria sofrer mais uma vez. Não sei o que faço. Levar-te, eu queria, mas sabes que não posso. Eles não te querem lá. "A idade média é aqui".

Já estamos bem grandinhos pra saber que não é fácil lidar com a dor e a tristeza que inundarão nossos corações. Como faremos para nos encontrar?
Como poderemos satisfazer essa dependência emocional e intelectual que temos um do outro?

Não são os muitos quilos de ouro que embelezam o mundo... não são os muitos quilômetros de praia que enfeitam esse país... Não, não são. O seu riso e o seu sorriso são as jóias mais raras que o planeta pôde produzir. Não importa onde, não ficarei feliz num mundo feio e sem cor. Preciso sempre me certificar da sua felicidade para ter paz e alegria.

Então, combinemos assim:
Nos dias de chuva, permitirei que fique triste por um instante. Porém, naquelas manhãs que o Sol brilhar profundamente, naqueles dias em que for difícil olhar para o céu sem se emocionar com o azul intenso que parece nos envolver e abraçar... nestes dias quero que se sinta, na ponta dos dedos, o meu corpo; na frente dos seus lábios, os meus; na palma da mão, as minhas mãos circundando as suas; quero que sintas, num cantinho do coração, todo o meu ser comprimido entre as outras ocupações e paixões que o tempo trará ao seu íntimo.

Olhando para o céu, estrelado ou azul claro, lembrarei de você, prometo que sim. Quando ver as nuvens brincando no céu, lembre-se, por favor, de mim e dos minutos raros que estive ao seu lado. As nuvens. O céu. Eu. Você. Exímia união.

Quem de nós poderíamos saber - se quer imaginar - que viveríamos um amor como esse? Como eu iria saber que esse amor iria acontecer?
"E quem sou eu para querer entender o amor?" Seu coração é livre. Poderá voar por outros céus. Poderá navegar por outros oceanos.

Para você, eu serei apenas um verão inesquecível
que passou com pressa, que, "apesar de findo, ainda será lindo"; que apesar de sem sorte, ainda será forte; que, apesar da mediocridade de quem o fez suprimido, teve a colossal grandeza de ter acontecido.

Não lhe quero infeliz, pelos cantos da vida, choramingando algo que não vingou. Quero-lhe feliz e sorridente, espalhando sua graça pelos
becos desta cidade. Sei que pode não ser fácil; sofrerás tanto quanto eu, um pouco menos. Mesmo assim, a amargura só nos afastará um do outro, enquanto seu riso atrairá minha presença para bem pertinho de você.

Ao seu lado, orgulhoso e cheio de mim, aprendi que o amor é um sentimento volúvel. Lembra que eu te disse que não queria me apaixonar por você? Pois é, hoje eu te amo. Lembra que eu te disse que no meu conceito o amor fraternal seria sempre incondicional? Pois é, não foi bem assim. A solidão invade meu peito. Parece que o mundo cresceu e meu coração diminuiu.

Apesar de todo o espaço que o mundo tem agora, meu
coração é minúsculo, está espremido em uma das frações que sobraram da sua partida.

Antes de partir, porém, peço-lhe desculpas por ter retrocedido algumas vezes na nossa história e não ter deixado-a correr livremente pelo
tempo. Perdoe-me, se quiser e puder, os pontos finais que insisti em cravejar no nosso amor. Acho que já foram três! Três pontos. ... Não são mais pontos finais; virou reticências, algo que não acabou. Algo que, após três pontos finais, é tão forte que fica marcado para continuar... continuar nestes dias que ainda estaremos juntos e, depois, nos nossos corações, sonhos e mentes.

Vai ser difícil viver sem você. Mas fica combinado assim: nos encontraremos na alegria, nos dias de Sol intenso, "no avesso de uma dor", no céu e nas nuvens.

Eu te amo


Assim mesmo, como está, sem ponto final.
Eu te amo sem aspas.

Eu te amo com reticências.
E ninguém pode me privar do prazer que é ser apaixonado por você.


EU TE AMO...

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